XIV DOMINGO DO TEMPO COMUM
A boa nova escondida – Mt 11,25-30 – Depois de acompanharmos, por alguns domingos, o Evangelho da “Cartilha Missionária” (cf Mt 10, 1- 42), a Liturgia, neste XIV domingo do Tempo Comum nos traz um texto muito especial. Após o longo “discurso da Missão”, Mateus narra alguns problemas que Jesus enfrenta no meio do povo de Israel (cf Mt 11,1-24). Joao Batista está na prisão e em dúvidas sobre Jesus, a liderança do povo se opõe, cidades inteiras não acolhem a Boa Nova. Após diversas polêmicas, Mateus como que encerra o capítulo com uma “chave de ouro” (cf Mt 11,25-30). Jesus louva o Pai porque a sua mensagem encontrou acolhimento no coração dos “pequeninos”. O texto consta de três sentenças. A primeira (cf. Mt 11,25-26) é uma oração de louvor que Jesus dirige ao Pai, porque Ele escondeu “estas coisas” aos “sábios e inteligentes” e as revelou aos “pequeninos”. Os “sábios e inteligentes” são certamente os “fariseus” e “doutores da Lei” da época, bem como todos os “grandes”, instalados na poder, no orgulho, na prepotência e autossuficiência. Os “pequeninos” são os discípulos e os que têm abertura para seguir um mestre. São também os pobres e marginalizados, os doentes, os publicanos, as mulheres e crianças, pessoas que Jesus encontrava todos os dias pelos caminhos da Galileia. Considerados “malditos” pela Lei, acolhiam, com alegria e entusiasmo, a proposta libertadora de Jesus. A segunda sentença (cf. Mt 11,27) explica o que é que foi escondido aos “sábios e inteligentes” e revelado aos “pequeninos”. Trata-se do “conhecimento”, da “experiência profunda e íntima” com Deus. Os “sábios e inteligentes” estavam convencidos de que o conhecimento da Lei lhes dava o acesso a Deus e garantia a salvação. Os “pequenos” reconhecem que a salvação é puro dom da misericórdia divina. A terceira sentença (cf. Mt 11,28-30) é um convite a ir ao encontro de Jesus e fazer uma troca de jugos: “vinde a Mim, vós que estais cansados”… “tomai sobre vós o meu jugo…”. Quem de nós, nestes tempos atuais, não está cansado/a do isolamento em que vivemos por causa da pandemia, de ouvir e ler notícias contraditórias sobre a política, a saúde, a educação, cansados/as dos governos que não governam para povo. E Jesus volta a nos dizer: “vinde a mim… tomai o meu jugo, o meu fardo”. O fardo está mesmo pesado. No tempo de Jesus, o jugo da Lei era por demais pesado para o povo. Era impossível cumprir, no dia a dia, os 613 mandamentos da Lei. As pessoas sentiam-se condenadas e malditas, afastadas de Deus e indignas da salvação. Jesus veio libertar da escravidão da Lei. Os doentes, os pecadores, o povo simples e pobre, todos os que a Lei excluía, são convidados a abandonar este jugo da Lei e assumir o jugo de Jesus: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para vosso espírito. Pois o meu jugo é suave e meu fardo é leve” (Mt 11,29-30). No contexto da época, por mais consolador e misericordioso que seja este dito de Jesus, trata-se de um dito profético, revolucionário, conflitivo para a religião oficial. A Boa Nova do Reino se “esconde” aos “donos da salvação” e se revela aos “escondidos” da sociedade. Acostumados ao silêncio da invisibilidade, os excluídos são mais sensíveis e abertos aos mistérios da vida, da dor, da morte. Isto se torna evidente no atual momento histórico de uma pandemia, quando a morte de pessoas bem visíveis é notícia diária, enquanto a morte pela fome, pelas guerras, pelo abandono e pela pandemia permanece ”escondida”, não conta. Faze Senhor ressoar em nossos ouvidos o vosso “vinde a mim”. Consola-nos neste momento de tantas aflições. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ