Solenidade de São Pedro e São Paulo

29/06/2023

“Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo!”- Mt 16,13-19 – Solenidade de S. Pedro e S. Paulo – Neste ano, em muitos países, o 13º Domingo Comum coincide com a Solenidade dos apóstolos S. Pedro e S. Paulo, as duas colunas da Igreja, cujo memorial se celebra no dia 29 de junho.

O cenário do Evangelho deste domingo (Mt 16,13-19) é o Norte da Galileia, perto das nascentes do rio Jordão, em Cesareia de Filipe. A cidade tinha sido construída por Herodes Filipe (filho de Herodes o Grande) no ano 2 ou 3 a.C., em honra do imperador Augusto. Segundo os estudiosos, esta região era habitada por Judeus de mais posses, que ali mantinham suas casas de descanso e veraneios. Pelo ambiente geográfico pode-se perceber que se trata de área conflitiva para Jesus.

A narrativa, do ponto de vista literário, ocupa um lugar central no Evangelho de Mateus. Certamente há uma razão para além da simples narrativa. O  episódio constitui como que uma “dobradiça” entre a parte inicial do Evangelho e o que segue.  Depois do êxito inicial do seu ministério, Jesus experimenta a oposição dos líderes e um certo desinteresse por parte do Povo. A sua proposta do Reino não é acolhida, senão por um pequeno grupo de discípulos. A cruz vai se perfilando no horizonte.

É neste cenário que Jesus dirige aos discípulos uma série de perguntas sobre si próprio. Não se trata de uma pesquisa de popularidade, mas visa tornar as coisas mais claras para os discípulos e confirmá-los na sua opção de seguir Jesus e de apostar no Reino.

Olhando mais de perto, percebemos duas partes no texto: A primeira centra-se em Jesus e na definição da sua identidade. A segunda centra-se na Igreja, que Jesus coloca  Pedro como “pedra”, como centro. Na primeira parte (vv. 13-16), Jesus interroga os discípulos sobre o que as pessoas dizem d’Ele e o que os próprios discípulos pensam. As respostas nos são conhecidas; do ponto de vista social, as pessoas veem Jesus como continuidade do passado: João Baptista”, “Elias”, “Jeremias” ou “algum dos profetas”. No censo comum, Jesus é um homem convocado por Deus e enviado ao mundo com uma missão, como os profetas do Antigo Testamento. Jesus é, apenas, um homem bom, justo, generoso, que escutou os apelos de Deus. Não entenderam a novidade do Messias, nem a profundidade do mistério de Jesus.

 A opinião dos discípulos vai além da opinião comum. Pedro, porta-voz da comunidade dos discípulos, resume o sentir da comunidade do Reino na expressão: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo” (v. 16). Dizer que Jesus é “o Cristo” (Messias) significa dizer que Ele é o libertador que Israel esperava, enviado por Deus para libertar o seu Povo e para lhe oferecer a salvação definitiva. Mas não só isto:  ele é o “Filho de Deus”. No Antigo Testamento, o título “Filho de Deus” tem sentido muito abrangente: trata-se de alguém que vive em total comunhão com Deus, que desenvolve uma relação de profunda intimidade e que Deus Lhe confiou uma missão única para a salvação dos homens da humanidade. Os discípulos são convidados a entender dessa forma o mistério de Jesus.

Na segunda parte (vv. 17-19), temos a resposta de Jesus à confissão de fé de Pedro, representante da comunidade. Jesus começa por felicitar Pedro pela clareza da confissão. No entanto, essa fé não é mérito de Pedro, mas um dom de Deus: “não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim o meu Pai que está nos céus”. O que é que significa Jesus dizer a Pedro que ele é “a rocha” sobre a qual a Igreja de Jesus vai ser construída? É preciso compreender que Pedro não é a “rocha”, mas que sua “confissão”, sua fé é fundamento da Igreja: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo”. Esta proclamação de fé é a “rocha da Igreja”.

A Igreja de Jesus, porém, não existe para ficar sentada sobre a rocha, olhando para o céu, numa contemplação piedosa do “Messias, Filho de Deus”; sua missão é testemunhar e levar ao mundo a grande boa nova de salvação. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ