Solenidade de Pentecostes
“O sopro da vida”– Jo 20,19-23 – Solenidade de Pentecostes! O evangelho deste domingo, já lido no segundo domingo do tempo pascal, tem como cenário o cenáculo e como calendário o próprio dia da ressurreição. Mais uma vez estamos diante de um relato que não pode ser lido como “histórico”, pois se trata de relato teológico, escrito em linguagem simbólica, cujo contexto histórico da redação é bem posterior aos fatos aqui narrados.
Estamos em torno dos anos 90 a 100 dC. Apresenta-nos a nova comunidade, já com maior experiência, que nasceu da ação criadora e vivificadora do Messias. No entanto, esta comunidade está em crise, fechada, insegura, com medo. Vive a falta de fé no Cristo ressuscitado e não tem consciência da grandeza do evento da ressurreição.
O relato de João é muito vivo e simbólico: era no “anoitecer”, as “portas fechadas”, os discípulos estão com “medo”. Jesus aparece “no meio deles”. A comunidade, fazendo a experiência do encontro com Jesus ressuscitado, redescobre o seu centro, o seu ponto de referência e toma consciência da sua identidade.
A catequese fica evidente: a comunidade cristã só existe de forma consistente se estiver centrada no Cristo ressuscitado. Jesus começa por saudá-los, desejando-lhes “a paz’. A “paz” é um dom messiânico; mas, neste contexto, significa, sobretudo, a transmissão da serenidade, da tranquilidade, da confiança que permitirão os discípulos superarem o medo e a insegurança: a partir de agora, nem o sofrimento, nem a morte, nem a hostilidade do mundo poderão derrotar os discípulos, porque Jesus ressuscitado está “no meio deles”.
Em seguida, “mostrou-lhes as mãos e o lado”. São os “sinais” que marcam a entrega de Jesus, o amor total expresso na cruz. É nesses “sinais” que os discípulos reconhecem Jesus. Os sinais da cruz, da entrega por amor é que revelam a verdadeira identidade de Jesus.
Vem, depois, a comunicação do Espírito. O gesto de Jesus de soprar sobre os discípulos reproduz o gesto de Deus ao comunicar a vida aos primeiros pais, modelados de argila. Com o “sopro” de Deus, o humano tornou-se um “ser vivente”. Com este “sopro”, Jesus transmite aos discípulos a vida nova e faz nascer a nova humanidade. O sopro da vida faz surgir um mundo novo. É a festa de Pentecostes.
Finalmente, Jesus revela qual a missão dos discípulos (v. 23): o perdão do pecado. As palavras de Jesus não significam que os discípulos podem ou não perdoar os pecados, conforme desejo e atributo pessoal, mas que são chamados a testemunhar no mundo a misericórdia do Pai. O sopro da vida do divino Espírito transforma a realidade de medo, de violência, de egoísmo, de morte, em realidade de paz, de entendimento, de sabedoria, de misericórdia.
A festa de Pentecostes torna-se assim a inauguração de uma nova realidade, de um mundo segundo o Espírito, no qual discípulas e discípulos doam sua vida em favor da vida plena. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ.