Solenidade da Santíssima Trindade
Da Galileia para o mundo – Mt 28,16-20 – Solenidade da Santíssima Trindade – A festa que celebramos neste domingo não pretende nos levar a sondar o mistério da Santíssima Trindade, de “um Deus em três pessoas”, mas quer ser um convite para contemplarmos o grande mistério de amor, que se manifesta na unidade, na comunhão, na plenitude das relações, e que nos envia em missão a todo o universo. O texto evangélico da liturgia terá sido escolhido porque nele aparece a fórmula trinitária usada no batismo cristão: “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Mais uma vez, porém, temos o mandato missionário, no qual somos enviadas(os) ao mundo como testemunhas e anunciadores do Deus Trindade e da alegre boa nova do Reino.
O Evangelho tem como cenário a Galileia, após a ressurreição de Jesus. Mais do que um lugar geográfico, a Galileia é “lugar teológico” especial. De acordo com Mateus, Jesus, pouco antes de ser preso, havia marcado encontro com os discípulos na Galileia (cf. Mt 26,32). Na manhã da Páscoa, os anjos que apareceram às mulheres no sepulcro (cf. Mt 28,7) e o próprio Jesus, vivo e ressuscitado (cf. Mt 28,10), renovou o convite para que os discípulos fossem à Galileia.
A localização geográfica fazia da Galileia o ponto de encontro de diversos povos. Judeus e pagãos eram parte da sua população. A convivência entre ambos era melhor do que na Judeia. Observando as narrativas evangélicas, vemos que os judeus da Galileia viviam a religião com mais leveza, sem tantas restrições legais. Isto fazia com que os judeus de Jerusalém desprezassem os da Galileia e considerassem que, “da Galileia não podia sair nada de bom” (cf . Jo 7,41.51).
Foi na Galileia, sim, que Jesus viveu quase toda a sua vida. Foi também na Galileia que Ele começou a anunciar o Evangelho do “Reino” e a reunir um grupo de discípulos (cf. Mt 4,12-22).. Olhando o texto do evangelho de hoje mais de perto, pode-se perceber que é perpassado por uma riqueza teológica exemplar. A Galileia é o lugar do encontro com o Ressuscitado e é a partir da Galileia que o Evangelho irá percorrer o mundo.
Do ponto de vista literário, o texto pode ser dividido em duas partes: na primeira (vv. 16-18), temos o encontro de Jesus, vivo e ressuscitado, com seus discípulos que o reconhecem e adoram-no. Mateus informa que “alguns ainda duvidaram”. Isto mostra que a fé não é uma certeza científica e a dúvida acompanha sempre os seguidores de Jesus.
Segue a segunda parte (vv. 19-20), com o envio dos discípulos em “missão pelo mundo”. Nota de destaque do mandato missionário é o de ir “a todas as nações”. A universalidade da missão é mandato de Jesus e não escolha pessoal. Como seguir este mandato? Trata-se de “ensinar e batizar”, ou seja, anunciar os gestos e as palavras de Jesus, buscando construir o Reino. Tendo ouvido a boa nova de Jesus e aceitando-a, o passo seguinte é batizar, ou seja, “mergulhar” a pessoa na dinâmica do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
O evangelho encerra-se com uma chave de ouro: “Eu estarei convosco até ao fim dos tempos”. Ele é o “Emanuel”, o “Deus conosco”. Esta certeza alimenta a vida e a fé dos discípulos-missionários de todas as nações, de todos os tempos e em todas as circunstâncias.
A festa da Santíssima Trindade nos lança o desafio de sairmos de “nossas Galileias” e ir “para o mundo”: o mundo das periferias existenciais, sociais e religiosas, o mundo dos pobres, dos enfermos, dos abandonados, dos desconsolados. Aqui reside a verdadeira contemplação do mistério da Trindade Divina. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ