Solenidade da Imaculada Conceição
“A Virgem da Esperança”- Lc 1,26-38 – Solenidade da Imaculada Conceição – Esta festa, comemorada em 8 de Dezembro, foi inscrita no calendário litúrgico pelo Papa Sisto IV, em 28 de Fevereiro de 1477. No entanto, o Dogma da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria só foi proclamado pelo Papa Pio IX, em 8 de Dezembro de 1854. Nesta solenidade, em pleno tempo de Advento, a liturgia propõe-nos o exemplo de Maria, a mulher da Esperança, a Virgem do Advento, aquela que foi plena em sua adesão: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra”. Neste ano, a Solenidade da Imaculada Conceição coincide com o 2º domingo do Advento, este tempo que “há de vir”, que nos coloca diante da esperança de tempos novos. Vivemos numa época tão cheia de percalços e angústias, de lutas e lágrimas, de desafios que, parecem mais fortes que nós! Como no passado, ainda hoje clamamos por um Salvador. Como Igreja de Cristo, suplicamos: Vem, Senhor! Manifesta o teu poder! O Evangelho da Festa da Imaculada Conceição relata a cena da anunciação e apresenta a resposta de Maria ao plano de Deus. Uma resposta surpreendente, diferente de tantas outras respostas dadas ao longo da história, como vimos em Adão e Eva. Olhemos mais de perto o Evangelho deste dia, Tantas vezes lido na Liturgia. A narrativa pertence ao grupo dos relatos dos “Evangelhos da Infância”, presentes em Mateus e Lucas, um gênero literário próprio, conhecido como midrash haggádico, um recurso que os mestres judeus usavam para ler e interpretar textos. Busca-se personagens do passado para iluminar certas narrativas do presente. Nos “Evangelhos da Infância”, recorre-se a personagens e relatos antigos para apresentar o mistério de Jesus. Assim sendo, a preocupação de Lucas não é apresentar um relato histórico dos acontecimentos, não pretende noticiar a anunciação do anjo a Maria, mas quer mostrar que Jesus é o Messias, que Ele vem de Deus. Para isto usa também o recurso de manifestações apocalípticas: anjos, aparições, sonhos, etc. O relato da anunciação precisa ser lido como que “por trás das Palavras”. A cena situa-nos numa aldeia da Galileia, chamada Nazaré, um lugar pobre e ignorado, completamente à margem dos caminhos de Deus e da salvação, segundo a ideologia judaica. Este cenário já constitui uma provocação para a revelação que a narrativa anuncia. De onde virá a Salvação. Maria, a jovem de Nazaré, está no centro do relato. Ela era “uma virgem desposada com um homem chamado José”. Ainda não era casada, segundo os costumes judaicos. Depois da apresentação do cenário, Lucas apresenta o diálogo entre Maria e o Anjo. Quem toma a iniciativa é o anjo, que saúda Maria com linguagem do AT, presentes em relatos de escolha, de vocação e de missão. O termo “Ave” é mais do que uma saudação. Diversas passagens do AT se aproximam desta expressão, mas com o sentido de “salve”. Assim lemos em Sf 3,14: “Rejubila filha de Sião”, ou “Salve ó filha de Sião”. A filha de Sião é uma figura frágil, delicada e pobre, que representa o Povo de Israel, que espera a salvação. Maria é saudada da mesma forma. A expressão “cheia de graça” indica que Maria, a pobre “filha de Sião”, é a predileta de Deus. A outra expressão, “o Senhor está contigo”, é uma expressão ligada aos relatos de vocação no Antigo Testamento. O diálogo prossegue e cada afirmação ou mesmo objeção é carregada de sentido para além das palavras. O relato termina com a resposta final de Maria: “eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”. Afirmar-se como “serva” é mais do que humildade; é reconhecer que foi eleita por Deus para uma missão. No Antigo Testamento, ser “servo do Senhor” é um título de glória, reservado àquelas pessoas que Deus escolheu, para o seu serviço. Maria reconhece que Deus a escolheu, aceita com disponibilidade essa escolha e manifesta a sua disposição de cumprir, com fidelidade, o projeto de Deus. Nesta eleição se fundamenta certamente o dogma da Imaculada Conceição. Eleita desde sua concepção. Ir. Zenilda Luzia Petry. FSJ