Solenidade da Ascensão do Senhor
“Eu estou sempre convosco até o fim dos tempos”– Mt 28,16-20 – Domingo da Ascensão do Senhor! A Festa da Ascensão de Jesus, tradicionalmente se celebra na 5ª feira, nove dias antes da festa de Pentecostes. Na Igreja do Brasil esta solenidade é celebrada no 7º domingo da Páscoa. A primeira leitura, do livro dos Atos, relata o acontecimento em estilo histórico, segundo o Evangelista Lucas, mas se trata de uma narrativa teológica: Jesus, depois de ter anunciado ao mundo o projeto do Pai e ter dado sua vida pela Salvação da humanidade, voltou ao seio Pai e enviará o Espírito Santo. Os discípulos agora não podem ficar parados olhando para o alto, numa passividade que espera tudo pronto vindo do céu. Eles têm de ir ao mundo continuar o projeto de Jesus.
Mateus, em seu Evangelho, traz outros horizontes para a Solenidade da Ascensão. Jesus está com os seus discípulos num monte da Galileia. Certamente não se trata de um relato jornalístico. O fato de estar num “monte” sinaliza para uma mensagem que vai muito além das palavras. Em Mateus, “monte” ou “montanha” é uma das chaves de leitura do Evangelho. Jesus inicia seu grande ensinamento num “discurso da montanha”(Mt 5-7) e o encontro final de Jesus com os discípulos é sobre um monte “que Jesus lhes indicara”. Trata-se de uma montanha da Galileia, algo muito difícil de se identificar geograficamente. Talvez Mateus esteja conectado com a “montanha da tentação” (cf. Mt 4,8), ou com a “montanha da transfiguração” (cf. Mt 17,1). De qualquer forma, no Antigo Testamento, o “monte” é sempre o lugar onde Deus se revela à humanidade. Trata-se então de uma especial revelação no mandato final de Jesus.
Outro aspecto a considerar é que este encontro se dá na “Galileia” e não na Judeia, ou em Jerusalém. O evangelista Lucas, ao contrário de Mateus e Marcos, pede aos discípulos que não se retirem de Jerusalém antes sua volta ao Pai e do envio do Espírito Santo.
A Galileia, do ponto de vista geográfico, estava situada ao Norte da Palestina. Era uma região mais rica e bem povoada, de solo fértil e bem cultivado. A situação geográfica, com sua rota comercial, fazia desta região um ponto de encontro de vários povos. Diversos pagãos faziam parte da sua população. Os judeus da região eram mais abertos e viviam a Religião e a Lei de forma mais relativa, sem aquela rigidez dos judeus de Jerusalém. Isto fazia com que os judeus de Jerusalém desprezassem os judeus da Galileia e considerassem que da Galileia “não podia sair nada de bom”. Mas foi na Galileia que Jesus viveu quase toda a sua vida e foi lá que iniciou a pregação do Evangelho. Foi na Galileia que chamou seus primeiros seguidores e seguidoras. E será da Galileia o “envio missionário a todas as nações”.
O texto do Evangelho de hoje, literariamente, divide-se em duas partes. Na primeira (vv. 16-18), temos o encontro de Jesus, vivo e ressuscitado, com os discípulos. Eles reconhecem Jesus como “o Kyrios”-, o Senhor” e o “adoram”. Porém “alguns ainda duvidaram”. Como compreender isto? A fé não é uma certeza científica, que exclui a dúvida. Ao reconhecimento e à adoração dos discípulos, segue-se uma manifestação do mistério de Jesus, que não se compreende racionalmente. Na “aproximação” de Jesus, Ele se revela como o “Senhor” que possui todo o poder sobre o mundo e sobre a história. Jesus é o “Emanuel” o “Deus-conosco”, que acompanhará a caminhada dos discípulos pelo mundo, caminhada esta que só poderá ser feita na “aproximação” com Jesus.
Na segunda parte (vv. 19-20), Mateus descreve o envio dos discípulos em missão pelo mundo. A primeira nota do mandato que Jesus dá aos discípulos é o da “universalidade”. A missão dos discípulos destina-se a “todas as nações” e não somente aos judeus, que se compreendiam como os únicos destinatários da salvação. A Igreja nasce do envio missionário de Jesus e da confirmação do Espírito Santo. A missão é de Deus, e todos os batizados são enviados em missão a “todas as nações”. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ