Sagrada Família, Jesus, Maria e José
“Por que Me procuráveis? Lc 2,41-52- Festa da Sagrada Família – O Evangelho que nos é proposto é a parte final do “Evangelho da infância” de Lucas, cujo objetivo não é relatar acontecimentos, mas revelar a missão de Jesus. Sabemos que estes relatos da infância de Jesus são quase sempre lidos em sentido literal. Superar a leitura dos “Evangelhos da Infância” em sentido literal é um grande desafio, inclusive entre pessoas com certo grau de formação. Como os relatos são quase sempre lidos como narrativa de acontecimentos históricos e as homilias não fogem muito deste equívoco, não se alcança o sentido mais profundo destes textos. A pesquisa bíblica moderna afirma que as narrativas do “Evangelho da infância” são midrax, ou seja, um gênero literário próprio dos mestres do judaísmo. Consideremos que os primeiros cristãos não tinham maior interesse pela infância de Jesus, sua biografia, mas por sua mensagem e proposta do Reino. Para o povo, era urgente sair da situação opressora e obter uma vida mais digna e livre. Assim estavam focados nas memórias da vida pública de Jesus, sua pregação, sua morte e sua ressurreição. Mais tarde surgiu uma certa curiosidade a respeito dos primeiros anos de vida de Jesus, seu nascimento, seus pais, lugar e data da origem. O texto evangélico que a liturgia nos propõe na Festa da Sagrada Família está inserido neste contexto dos anos 80 d.C. Trata-se do final do “Evangelho da Infância”, no qual se busca dar um colorido artístico, com muita ternura e encanto, das origens de Jesus. Com alguma possível informação histórica, Lucas desenvolve uma reflexão teológica para dizer quem é Jesus e qual a sua proposta. Depois de dizer que Maria, José e Jesus tinham ido a Jerusalém para participar na festa anual da Páscoa, Lucas parece esquecer a finalidade desta ida para Jerusalém e informa logo sobre o retorno à Nazaré. Lucas também é muito discreto ao falar do incidente ocorrido. Não nos informa também sobre o fato de Maria e José só perceberem a ausência do filho após um dia de caminhada. Diz apenas que os pais pensavam que o menino estaria em outra caravana. Como o relato não é uma “reportagem”, mas visa revelar quem é Jesus, Lucas informa que os pais voltaram a Jerusalém e só encontraram o menino após três dias. Encontram Jesus em atitude de aluno, que ouve e faz perguntas aos doutores. É um “ouvinte e um anunciador da Palavra”. “Todos aqueles que O ouviam estavam surpreendidos com a sua inteligência e as suas respostas”. Maria, em sua função de mãe, com delicadeza e firmeza, admoesta Jesus: “filho, por que procedeste assim conosco? Teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura”. Jesus responde por meio de duas perguntas: “por que Me procuráveis? Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?”. Na resposta de Jesus por meio das duas perguntas, está a definição do seu projeto de vida que Lucas quer evidenciar. Todo o relato visa revelar quem é Jesus e qual a sua missão. José e Maria ainda não alcançam a extensão da resposta de Jesus, mas como servos do Senhor, seguirão em sua missão de serem cuidadores da vida daquele que é portador da vida em plenitude. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ