Saboreando a Palavra – Dom. de Ramos 05/04

02/04/2020

A doação da vida por amor – Mt 26,14 – 27,66 – A liturgia deste último domingo da Quaresma convida-nos a contemplar um Deus que, por amor, desceu ao nosso encontro, partilhou de nossa humanidade frágil, fez-Se servo, deixou-Se assassinar,  inaugurando um novo de tempo, de uma humanidade solidária, respeitosa e misericordiosa. A cruz é a lição suprema, o último passo desse caminho de vida nova que, em Jesus, Deus nos propõe: a doação da vida por amor. No domingo de Ramos se celebra a entrada de Jesus em Jerusalém. Fala-se em “entrada triunfal”, que nada tem de triunfal. Ele vem montado num jumento não em cavalo, segundo os heróis da época, e é aclamado pelos discípulos e pelas crianças. E pode-se imaginar a aclamação das crianças, sempre prontas a participar de qualquer ação que alguém incentive. O evangelho da missa é a narrativa da Paixão, um convite a contemplar o mistério da paixão e morte de Jesus.  A morte de Jesus precisa ser entendida no contexto daquilo que foi a sua vida. Desde cedo, Jesus apercebeu-Se de que o Pai O chamava a uma missão: anunciar esse mundo novo, de justiça, de paz e de amor para toda a humanidade. Para concretizar este projeto, Jesus passou pelos caminhos da Palestina “fazendo o bem” e anunciando a proximidade de um mundo novo, de vida, de liberdade, de paz e de amor para todos. Ensinou que Deus era amor e que não excluía ninguém, nem mesmo os pecadores. Ensinou que os leprosos, os paralíticos, os cegos, não deviam ser marginalizados, pois não eram amaldiçoados por Deus, como vigorava na doutrina oficial. Foi além: ensinou que eram os pobres e os excluídos os preferidos de Deus e aqueles que tinham um coração mais disponível para acolher o “Reino”. Em contrapartida, avisou aos “ricos”, aos poderosos e bem-instalados, que o egocentrismo, o orgulho, a autossuficiência, a falta de respeito e solidariedade conduziriam à morte. A proposta do Reino entrou em choque com a atmosfera de opressão, de ganância, de auto promoção  que dominava o mundo. As autoridades políticas e religiosas sentiram-se incomodadas com a denúncia de Jesus: não estavam dispostas a renunciar a esses mecanismos que lhes asseguravam poder, influência, domínio, privilégios. Não estavam dispostas a arriscar, a desinstalar-se e a aceitar a conversão proposta por Jesus. Por isso, prenderam Jesus, julgaram-no, condenaram-no e pregaram-no numa cruz, como um malfeitor. A morte de Jesus é a consequência lógica do anúncio do “Reino”. Podemos, também, dizer que a morte de Jesus é o culminar da sua vida; é a afirmação última, porém, mais radical e mais daquilo que Jesus pregou com palavras e com gestos: o amor, o dom total, o serviço. Celebrar a paixão e a morte de Jesus é mergulhar na contemplação de um Deus a quem o amor tornou frágil… Olhemos para o papa Francisco na Praça de São Pedro, no dia 27 de março. A fragilidade de um ancião que, por amor, realizou um dos atos místico-proféticos mais significativos da História da Igreja, que nos confirma a grandeza do mistério de um Deus que, por amor, doou a própria vida. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ