Saboreando a Palavra
Dia 29/07
“Aproximava-se a Páscoa, a festa dos judeus” – Jo 6,1-15 – O evangelho do 17º domingo do TC é retirado do Evangelho de João. Está, porém, em perfeita sintonia com a narrativa de Marcos, que a Liturgia trouxe nos diversos domingos anteriores. O relato é uma grande catequese sobre o que Jesus ensinava, segundo Marcos. O texto de João situa o acontecimento em outro contexto, tanto geográfico, quanto teológico. Não situa em “lugar deserto”, mas no contexto da Páscoa. Rm João temos três relatos em contexto de Páscoa. A primeira, após a narrativa das bodas de Caná, em Jo 2,13s., onde Jesus expulsa os vendilhões do templo em Jerusalém. A segunda é esta da liturgia de hoje, conhecido como “quarto sinal”. Jesus celebra esta segunda páscoa fora de Jerusalém, mas na Galileia, em ruptura com a tradição, bem longe do templo e dos sacerdotes. A terceira páscoa é em Jerusalém novamente, quando ele será imolado como cordeiro. Quanto à multiplicação ou “partilha” dos pães, há quatro relatos ocorridos dentro do território judeu: Mt 14,13-21; Mc 6,30-44; Lc 9,10-17 e Jo 6,1-15. Mateus e Marcos trazem ainda a partilha de pão fora do território judeu (cf. Mt 15,32-39 e Mc 8,1-10). Ao todo são seis relatos da partilha do pão. Olhando a narrativa do 4º Evangelho, podemos ver que somente João coloca a narrativa no “contexto da Páscoa”. “Estava próxima a páscoa, a festa dos judeus” (Jo 6,4). Além desta informação, há outras diferenças e também semelhanças em relação aos demais relatos. O pão: Um detalhe importante em João é que há um menino com “cinco pães de cevada”. Os demais não informam o tipo de pão. O pão de cevada é a principal alimentação dos pobres na Palestina do tempo de Jesus. A multidão que Jesus encontra na Galileia, próximo da festa da Páscoa, a festa da libertação, é uma multidão de gente pobre, escrava do sistema da época, um povo que geme por libertação. A Páscoa: Jesus resgata o seu sentido original- libertação do povo da miséria, “passagem” de uma realidade de fome para uma de satisfação e fartura. A iniciativa de Jesus: Os outros evangelistas informam que, diante da multidão faminta, são os discípulos que alertam para a falta de comida para tanta gente. Em João é Jesus que se antecipa e questiona os discípulos: “onde vamos comprar pão para que eles possam comer”? (v.5). Filipe se antecipa e justifica a impossibilidade de uma solução para a fome do povo. Fecha a chance de encontrar saídas. André procura uma alternativa e encontra o menino com os “cinco pães de cevada e dois peixinhos”. Pães de cevada e “peixinhos”! O farnel de um pobre. Mas este farnel de pobre é um “sinal”. Jesus sabia o que tinha que ser feito, mas prefere envolver os discípulos no encaminhamento da questão. Ele toma o pão e dá graças. Dá graças pelo pouco que há e não espera a abundância para louvar. Depois da ação de graças o pão se multiplica, alimenta a multidão faminta e ainda sobra muito. Quanto mais se reparte, mais se tem. Do partir do pão ao pão partido – Jesus ensina como partilhar e como as pessoas precisam ser umas com as outras. Propõe que se faça a passagem do “partir do pão” para se tornar “pão partilhado”. Mas não foi isto que aconteceu. As multidões queriam comida, mas não compromisso com Jesus. Os discípulos igualmente ficam sem entender o que Jesus propõe. As multidões ficaram satisfeitas e querem fazê-lo Rei. Ele se retira para a montanha a fim de manter sua fidelidade ao projeto do Pai. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ