Natal do Senhor! Boas Festas!

22/12/2022

 O Mistério de um Deus que se encarna – Jo 1,1-18 – São duas as celebrações eucarísticas de natal: a “missa da noite” e a “missa do dia”. Nesta nossa reflexão partilhada, optamos por focar o Evangelho da “missa do dia”, o texto de Jo 1,1-18, o conhecido “prólogo de João”, um “hino” que nos faz contemplar toda a ação de Deus na História e nos mergulha no mistério da encarnação, o verdadeiro Natal.

O texto começa com a expressão “no princípio”: dessa forma, João conecta o seu Evangelho com o relato da criação (cf. Gn 1,1), oferecendo-nos, desde logo, uma chave de interpretação para todo o seu Evangelho. O que ele vai narrar sobre Jesus é a definitiva intervenção criadora de Deus. Jesus, o Deus encarnado, é a plenitude da criação. As palavras e obras de Jesus consistem em fazer nascer a nova humanidade, iniciada por Deus “no princípio”.

“No princípio era o Verbo”, a “Palavra” (“Lógos”). A “Palavra” já existia antes da criação e teve sua manifestação na criação: E Deus disse: Haja… Esta “Palavra”, uma realidade anterior ao céu e a terra, já foi atuante na primeira criação. No entanto, essa “Palavra” não só “estava junto de Deus” e colaborava com Deus, mas “era Deus”.

A “Palavra” veio ao encontro da humanidade, fez-se “carne” (pessoa), o “Filho único cheio de amor e de verdade”. Nessa pessoa (Jesus), podemos contemplar o projeto ideal e original de humanidade no sonho de Deus.

Então a “Palavra” “montou a sua tenda no meio de nós. “Montar a tenda” recorda a “tenda do encontro” que, na caminhada pelo deserto, os israelitas montavam no meio ou ao lado do acampamento e era o local do “encontro com Deus” (cf. Ex 27,21…). Natal é a recordação da “morada de Deus entre nós”, que se faz “vida/luz”, e assim comunica a vida em plenitude. Trata-se de acolher a luz que ilumina o caminho da humanidade, possibilitando-lhe encontrar a vida verdadeira, a vida plena, Jesus Cristo.

No entanto,”a luz brilha nas trevas e as trevas não a receberam”. As trevas resistiram ao projeto “vida/luz”. De inicio por Herodes que, com seu sistema injusto e opressor, promulgou a morte de qualquer esperança. Recusar a “vida/luz” significa continuar a caminhar nas trevas da mentira, da escravidão, da opressão, da tirania, da falta de respeito.

Em tempos atuais, boa parte da humanidade, transformou a celebração do “mistério da encarnação” em “mistério da iniquidade”. Natal, a manifestação de Deus na carne humana, transformou-se numa bonita festa folclórica, mas carregada de mentiras, de consumismo, de humilhação dos pobres, de “maquiagem” da comunhão e solidariedade cristãs.

Cremos, porém, que a transformação da “Palavra” em “carne”, em menino do presépio de Belém, é a espantosa aventura de um Deus que ama até ao extremo e que, por amor, aceita revestir-Se da nossa fragilidade, a fim de nos trazer a vida em plenitude.

Neste dia de Natal somos convidados a contemplar, numa atitude de humilde e serena adoração, esse incrível passo de Deus de vir ao nosso encontro, montando sua tenda entre nós, para assim peregrinar conosco neste imenso deserto florido de nossas vidas.

 Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ