II Domingo da Páscoa
Jesus veio, colocou-Se no meio deles – Jo 20,19-31 – Neste segundo domingo da Páscoa, domingo da Misericórdia, a Liturgia nos enriquece com uma espécie de “fotografia” da comunidade de vida nova que Jesus, morto e ressuscitado, inaugurou. Na primeira leitura (At 4,32-35) temos a visão da “comunidade modelo” da nova Aliança. Uma comunidade que manifesta o seu amor fraterno em gestos concretos de partilha e de dom e que, dessa forma, revela ao mundo como viver a fé em Jesus ressuscitado.
O Evangelho é muito conhecido, uma vez que a figura de Tomé é analisada de muitas formas. Mas o relato tem outros aspectos a serem contemplados com muito interesse. Do ponto de vista literário o texto divide-se em duas partes bem visíveis. Na primeira (vv. 19-23), temos a descrição da “aparição” de Jesus aos discípulos. O cenário é de insegurança e fragilidade: o “anoitecer”, as “portas fechadas”, o “medo”… No meio deste cenário aparece Jesus. Ao aparecer “no meio deles”, o autor do 4º Evangelho afirma que Jesus é o centro da nova comunidade, que deve se reunir ao redor dele. Esta comunidade ainda está fechada, com medo, mergulhada nas trevas, dominada por um mundo violento. Jesus se coloca no meio e transmite duplamente a paz. É de paz que todos necessitam. A paz é o “shalom” hebraico, que tem o sentido de harmonia, serenidade, tranquilidade, confiança, vida plena. Depois Jesus mostra os “sinais” de sua entrega, de sua verdadeira identidade e missão: “mostrou-lhes as mãos e o lado”. Nas mãos e no lado trespassado, estão os sinais do seu amor e da sua entrega. Pode-se ver também nestes sinais o envio de fazer o que ele fez e de assumir a misericórdia como novo modo de ser. Em seguida Jesus “soprou” sobre os discípulos reunidos à sua volta. É o sopro do início da criação. Na segunda parte temos o relato que mostra o desafio da fé. Não se trata de um relato histórico, mas um ensino sobre como sustentar a fé na ressurreição de Jesus. A fé é fruto da experiência e não de doutrinas. É fruto do “encontro” com Jesus, que se realiza na comunidade, lugar natural onde se manifesta e irradia o Seu amor. Tomé está fora da comunidade reunida. E mais ainda: pretende obter uma demonstração particular de Deus para si mesmo. Tentação de tantos cristãos hoje! De fato Tomé representa aqueles e aquelas que vivem fechados em si, os que pautam sua vida pela “auto referencialidade”. Mas Tomé teve uma segunda oportunidade. “No dia do Senhor”, ele estava na comunidade e teve a graça do encontro com Jesus. Sua confissão é a síntese de todos os atos de fé: “Meu Senhor e meu Deus!”. A fé na ressurreição brota do encontro com Jesus. Parece que a principal mensagem do evangelho deste dia é que experiências individuais, íntimas, fechadas, egoístas, não levam ao encontro com Jesus ressuscitado. O encontro com Jesus se dá no diálogo comunitário, na Palavra partilhada, no pão repartido, no amor que une os irmãos em comunidade de vida. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ