Festa de Cristo Rei
Festa de Cristo Rei – “Tudo o que fizerdes…” – Mt 25,31-46 – O Evangelho deste domingo fecha como que com “chave de ouro” as catequeses de Jesus narradas pelo evangelista Mateus. Há três domingos estamos no cenário do “discurso escatológico” (cf Mt 24-25), no qual se acentua a segunda vinda de Jesus, a necessidade da vigilância por meio de um engajamento concreto e, consequentemente, o “julgamento final” de toda esta itinerância. A cena do “juízo final” certamente não é uma descrição histórica e fotográfica do que vai acontecer no final dos tempos. Está na mesma dinâmica das parábolas anteriores (das dez virgens (Mt 25,1-13 e dos talentos, Mt 25,14-30). A bem da verdade, estes textos nos apresentam “cenários dramáticos”, em que ocorre a “exclusão do Reino” de uma parte dos personagens. Não entram na festa do Reino. O Evangelho deste domingo também é descrito num “quadro dramático”, em que o “rei”, Jesus, faz como que o “Exame Final” de todo o seu ensinamento aos discípulos. O conteúdo principal deste “exame” é sobre o cuidado que tiveram para com os irmãos, sobretudo com os pobres, os fracos, os desprotegidos. O drama que transparece é que há os que optaram pela falta de cuidado, pelo egoísmo, fechamento em si próprios, autossuficiência, pela indiferença para com o irmão que sofre. A condenação não é dada pelo rei, mas é fruto das opções feitas. Isto já ocorreu com as “cinco virgens” sem a reserva do azeite, e com o terceiro “servo”, que não fez “render o talento”. Literariamente, a parábola do “juízo final” começa com uma “introdução” (vv. 31-33) que apresenta o cenário: o “Filho do Homem” sentado no seu trono, em posição de rei e de juiz, a separar as pessoas umas das outras “como o pastor separa as ovelhas dos cabritos”. Uma imagem palestinense, certamente bem conhecida pelos conterrâneos. Seguem dois “diálogos”: um, entre “o rei” e “as ovelhas” que estão à sua direita (vv. 34-40); outro, entre “o rei” e os “cabritos” que estão à sua esquerda (vv. 41-46). No primeiro diálogo o “rei” acolhe as “ovelhas” e convida-as a “tomar posse da herança do Reino”; no segundo, o “rei” afasta os “cabritos” e declara que “não terão a posse da herança do Reino”. Por quê? Qual é o critério que “o rei” utiliza para acolher uns e rejeitar outros? A questão decisiva, na perspectiva de Mateus, é a atitude e as ações concretas de amor ou de omissão para com os irmãos de Jesus, os “mais pequeninos”. São os que se encontram em dramáticas situações de necessidade: os que têm fome, os que têm sede, os peregrinos, os que não têm que vestir, os que estão doentes, os que estão na prisão… E não se trata apenas de um “agir social” a favor destes “pequeninos”. O misteriosamente novo é que Jesus Se identifica com os pequenos, os pobres, os débeis, os marginalizados. Fazer ou não fazer aos “pequeninos” é fazer ou não fazer a Jesus. Viver o amor e a solidariedade para com o pobre é estar no coração do próprio Jesus. Agir com egoísmo ou falta de cuidado para com o pobre é estar contra o próprio Jesus. Trata-se realmente de um “quadro dramático”. “Tudo o fizerdes ao menor dos meus irmãos, foi a mim que o fizeste”. Num mundo marcado pelo ódio, violência, vingança, desigualdades, desrespeito, com relações tão feridas, Jesus se identifica com todas as vítimas. Este é o rosto da misteriosa misericórdia de nosso Deus, um caminho a ser percorrido na fé. Fica sempre mais evidente que “estar vigilantes e preparados”, tema dos domingos anteriores, consiste em viver o amor e a solidariedade concreta para com os pobres, os pequenos, os desprotegidos, os marginalizados… Em última análise, é esse o critério que decide a entrada ou não no Reino de Deus. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ