Feliz e abençoada Páscoa!
“Primeiro dia da semana”– Jo 20,1-9 – Após os 40 dias de jornada quaresmal litúrgica, após celebramos a memória da paixão e morte de Jesus, neste ano de 2021, dentro de contexto mundial de “quarentenas”, de ”isolamentos”, de “fique em casa”, de muitos “Getsêmanes” e poucos “cenáculos”, de longos “Calvários“ nas filas ou em leitos de UTI, de lágrimas “por vós e vossos filhos”, de muita “paixão e morte” de familiares, amigos conhecidos, chegamos ao Domingo da Páscoa, quando a liturgia celebra a ressurreição de Jesus. Ressurreição! A humanidade clama por ressurreição, por um “primeiro dia”, pelo fim da pandemia! O Evangelho deste dia não poderia ser mais oportuno. O cenário é a sepultura de Jesus em Jerusalém. Mais uma vez estamos diante de um relato que não é reportagem jornalística, mas profunda teologia. Uma teologia escrita em linguagem simbólica, tão própria do Evangelho de João e que necessita ser mais contemplada do que compreendida. João descreve a reação dos discípulos diante da descoberta do sepulcro vazio. É o “primeiro dia da semana”. Significa que começou um novo tempo, uma nova criação. É o “primeiro dia” de uma nova realidade. Entra em cena Maria Madalena, a primeira a dirigir-se ao túmulo de Jesus, aquela que se antecipa, movida por grande sensibilidade e muito amor. O sol não tinha nascido, estava escuro, tudo era trevas, caos, como no caos primordial, como no caos do mundo atual, mas era o “primeiro dia da semana”. Os discípulos viviam a certeza de que a morte tinha triunfado e que Jesus estava no sepulcro. Já era o terceiro dia, morte confirmada. Para quem muito ama, a morte não é a última palavra. Maria Madalena se antecipa a todos, vai ao sepulcro, procurou Jesus no túmulo e encontrou o sepulcro vazio. Por ser “madrugadora”, sai às pressas e diz que “levaram meu Senhor”. Confessa que Jesus é “seu Senhor” seu “Kyriós” e assim, indiretamente, proclama ressurreição. É a primeira anunciadora de que algo novo rompeu a história. Jesus não é um cadáver, mas é o “Senhor”. Em seguida temos a reação dos dois discípulos diante da morte de Jesus. Pedro e um “outro discípulo”, não identificado. Mais do que dois indivíduos, são personagens que expressam atitudes diante do mistério da morte. O “outro discípulo” é identificado como o “discípulo amado”, que aparece no Evangelho de João a partir do capitulo 13, no ambiente da paixão, morte e ressurreição de Jesus. O que é que estas duas figuras de discípulo representam? Em geral, Pedro representa, nos Evangelhos, o discípulo “obstinado”, em contaste como o “discípulo amado”. Para Pedro, a morte significa fracasso e se recusa a aceitar que a vida nova passe pela humilhação da cruz. Esse “outro discípulo” parece ser símbolo do “discípulo ideal”, que aderiu a Jesus em seu mistério pleno. Ele compreende a razão da morte e descobre os sinais de vida lá onde parece reinar a morte. Ele vê o sepulcro vazio, vê o “lenço da cabeça enrolado em outra posição e os panos de linho espalhados pelo chão”. Para quem ama, isto é sinal de superação da morte. Está vivo quem esteve envolvido nos panos da morte. Era o “primeiro dia da semana”, o túmulo está vazio, os panos que encobriam o corpo do morto foram removidos, a vida renasceu. A seguir, o jardim não será mais o lugar do sepulcro, mas voltará a ser lugar da festa, do encontro, da plenitude. Maria Madalena, ícone da nova humanidade, após suas abundantes lágrimas, irá proclamar ao mundo: “eu vi o Senhor”. Que nesta nova Páscoa, as lágrimas desta dramática pandemia sejam enxugadas, que os sepulcros fiquem vazios e que voltemos a cultivar os jardins com as flores da esperança! Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ