Falecimento de Ir. Maria Aparecida Cosme Chaves – 31.03.2025
Biografia de Irmã Maria Aparecida Cosme Chaves
“A Vida é um dom de Deus”
“O caminho que faz bem é o de se confiar num caminho comunitário, pois, a vocação “é um fruto que amadurece no terreno bem cultivado do amor uns aos outros que se faz serviço recíproco, no contexto duma vida eclesial autêntica. Nenhuma vocação nasce por si, nem vive para si. A vocação brota do coração de Deus e germina na terra boa do povo fiel, na experiência do amor fraterno”. (Papa Francisco).
Irmã Maria Aparecida Cosme Chaves, nasceu em Bujaru/PA, aos 06 de setembro de 1960, mas foi registrada dia 16 de setembro de 1960. É a segunda filha do senhor Estácio dos Santos Chaves e de Leopoldina Santana Cosme Chaves, o casal teve três filhas e quatro filhos, o primeiro nasceu morto e o sétimo filho, era uma menina que morreu com cinco dias de nascida. Aos 23 de setembro de 1960 na Capela Nossa Senhora das Graças na Vila do Cravo, Bujaru/PA, Ir. Maria Aparecida recebe o Batismo pelas mãos do Pe. Augusto Cardim. No final do ano de 1967, fez sua Primeira Eucaristia, na Capela Nossa Senhora das Graças na Vila do Cravo, com o Pe. Basílio, vigário de Bujaru/ PA- Paróquia de São Joaquim, Diocese de Abaetetuba/PA. Uma observação: Ir. Maria Aparecida fez o Crisma na Igreja Matriz de São Joaquim em Bujaru/PA, presidida por Dom Ângelo Frosi, na idade de 4 anos, como era o costume da Igreja na época.
Irmã Aparecida com seus irmãos, foram educados na fé. Sua história de fé e Vida, ela a contava valorizando cada momento vivido com seus familiares. “Sua vocação amadureceu num ambiente profundamente cristão, e foi sempre uma moça esforçada e exemplar”, conforme descreve o vigário paroquial, Carlos Mantous, na carta de Recomendação à Vida Religiosa, escrita no dia 31 de dezembro de 1982.
A história de sua vida, conforme deixou registrado em seus escritos, foram de grandes dificuldades. Porém, vividos com coragem, persistência, confiança e lutas, sem jamais se desanimar. “O desejo de estudar era imenso e contava com a ajuda de seus pais, que não mediram esforços em lhe alfabetizar, eles compraram a famosa cartilha do ABC, e cada dia sua mãe, dona Leopoldina com muita paciência lhe ensinava letra por letra e ela decorava todas as letras com exceção do “s”, mas, conseguiu aprender e realizar todas as lições da cartilha.
Aos 7 anos chegando a sua idade escolar, é matriculada na escola. No segundo semestre daquele ano, quanta alegria! Já sabia ler. Fez um teste avaliativo onde foi aprovada e passou da cartilha, para a 1ª série. Nessa mesma época iniciou a preparação para sua Primeira Eucaristia.
Em 1968, fez a 2ª série com a sua querida professora Isabel. Em 1969 fez a 3ª série e em 1970 repetiu a 3ª série, porque não tinha a 4ª serie na sua comunidade. Ela estudava a 3ª série num horário e no outro, ajudava a professora com a turma de alfabetização. Em 1971 aos 12 anos fez a 4ª série numa escola particular, após esse tempo, ficou 4 anos sem estudar e isso a entristeceu muito. Ao completar 14 anos, começou a participar do grupo de jovens e grupo de evangelização. Mas, dentro de si, permanecia o grande desejo de estudar, mas não dava certo, porém os pais não a deixavam desanimar e diziam: “Tudo daria certo se fosse da vontade de Deus e se ela o buscasse de todo coração e que nunca era tarde para começar.”
Foi então que, aos 17 anos começou a realizar seu sonho. Com ajuda da professora Isabel, que providenciou a documentação e transferência, possibilitando seus estudos na cidade de Bujaru/PA. Estudou um ano, mas teve que parar e voltar para casa dos pais. Nesse período, teve que trabalhar dando aula para crianças da 1ª e 2ª série, e no Mobral dando aula para adultos.
Em 1979, vai morar na casa da professora Isabel, na cidade de Bujaru, para dar continuidade aos estudos. Ao mesmo tempo buscando sua vocação, tentando descobrir a vontade de Deus na sua vida.
No texto titulado: “Minha História de 0 a 22 anos” de Irmã Maria Aparecida, assim descreve: “comecei a desejar a Vida Religiosa, porque queria servir a Deus de um modo especial, senti a necessidade do meu povo, e que havia pouca vocação religiosa e sacerdotal entre jovens brasileiros e paraenses. E assim, como recebemos padres e irmãs estrangeiros, temos que também oferecer.” Com isso, o desejo de ser religiosa de Ir. Cida foi crescendo, e, em um dos momentos fortes de sua história vocacional, participou de um retiro de jovens com Ir. Zenilda, onde, pela primeira vez escutou um hino de São Francisco de Assis, titulado de: “Meu Amigo”, em que aprendeu logo e sentiu que o cântico tinha alguma relação com as irmãs, mas deixou o tempo passar e foi vivendo conforme a vida se apresentava. Mas, em 1980, com ajuda e orientação do Pe. Tony e Ir. Joanice foi morar com as irmãs para descobrir mais sua vocação. Estudava a 7ª série, dava aula no Pré-escolar, acompanhava o grupo de jovens, ensinava catequese, e aos sábados ajudava na Pastoral, saindo para as comunidades do interior. Após esta experiência pediu para continuar aprofundando sua vocação, fazendo a experiência como Aspirante e foi aceita pelas Irmãs. No dia 28 de fevereiro de 1981, Irmã Maria Aparecida ingressa na etapa formativa do Aspirantado em Tomé Açu / PA, Fraternidade Irmão Sol, onde passou o ano estudando, trabalhando e cuidando da vocação sobre a orientação de Irmã Ivone. Em 16 de abril de1982, na Fraternidade Irmão Sol, em Tomé Açu/PA onde ingressou no Postulantado. No dia 02 de fevereiro de 1983, ingressou no Noviciado Canônico na Fraternidade Monte Alverne em Rondinha Campo Largo/PR. O segundo ano de noviciado foi para Fraternidade Bom Samaritano Piraquara/PR, onde fez o estágio Pastoral. Sua Primeira Profissão foi em 27 de janeiro de 1985 na Capela da casa de Formação em Rondinha, Campo Largo/PR.
De 1985 a 1987, foi morar em Tomé Açu na fraternidade Irmão Sol, trabalhando na Pastoral, dava aula de Ensino Religioso e ajudava na formação das Aspirantes. Ainda como Juniorista, em 1988 a 1990, três anos, morou em Belém, na Fraternidade São Vicente e trabalhava na Pastoral, e no dia 22 de fevereiro de 1988 iniciou o curso do 2º Grau – Magistério, no Colégio Santa Rosa em Belém-PA.
Sua formação no Juniorato foi de 1985-1990. No dia 15 de junho de 1991, fez sua Profissão Solene – Votos Perpétuos, na Capela Nossa Senhora das Graças na Vila do Cravo, Bujaru/PA – Paróquia São Joaquim – Diocese de Abaetetuba/PA.
Prosseguindo com confiança sua vocação, Irmã Cida, assim chamada por todos, dá continuidade a sua vida e missão e em 1991 voltou para Tomé Açu como mestra das Aspirantes e trabalhando na Pastoral na Paróquia Santa Maria.
Em 1992, foi transferida para Fraternidade Nossa Senhora da Esperança em Ananindeua /PA, dando continuidade na formação como mestra das Aspirantes.
Em 1993, fez a belíssima experiência de Assis. E de agosto a dezembro de 1995, fez o curso do CETESP – Pastoral (Teologia) no Rio de Janeiro. Diante dessas formações e funções, permaneceu morando em Ananindeua-PA, bairro do Guanabara, de 1992 a 1997.
Como a missão continua, no dia 09 de fevereiro de 1998, chegou na Fraternidade Santa Isabel da Hungria em Bacabal, onde ficou até 2000, assumindo a função de mestra das Aspirantes no Aspirantado São José operário, e ajudava na Pastoral Vocacional, e dava aula em uma escola municipal. Em 18 de fevereiro de 2001, foi transferida para Fraternidade São Vicente no Guamá e acompanhava a Comunidade Santa Maria Gorete, neste ano foi eleita Conselheira da Sub Província e era Secretária da Sub Província. Desde 2001 até setembro de 2002, ficou na Cremação – Guamá, Fraternidade São Vicente, e ainda em setembro, vai para Nova Sede da Província em Ananindeua-PA, residindo até julho de 2003. De julho de 2003 a 2007, morando aproximadamente quatro anos, retorna para a Fraternidade Nossa Senhora de Nazaré, no Guanabara, para assumir a função de mestra de Postulantes.
Com esperança, em 2008, retorna para a Fraternidade São Vicente – Guamá como mestra de Postulantes. Entre esses períodos, de 2004 a 2009, também foi Coordenadora Pedagógica e professora de Ensino Religioso na Escola Madre Celestes.
Sua Vida, Missão e Vocação são entrelaçadas de idas e vindas, mas sempre obediente a vontade de Deus. E em 2010, Irmã Maria Aparecida Cosme Chaves, celebra seu Jubileu de 25 anos de Vida Consagrada, quanta alegria para sua alma que amava incondicionalmente a Jesus, seu divino esposo.
Como o Senhor a preparou para continuar assumindo sua missão, lhe concede mais uma função, de assumir a Província, como Provincial e em julho de 2009, foi eleita Superiora Provincial da Província Mãe da Misericórdia, período de 3 anos (2009 a 2012). Com o Capítulo Provincial de 2012, ela é reeleita como Provincial da PMMIER e exerce a função até 2015. De julho de 2015 a 2018, é nomeada como: Coordenadora Provincial do Serviço do Cuidado Pastoral Vocacional.
Mas Deus, ainda lhe apontava missão, de 2018 a 2021, Ir. Maria Aparecida é novamente eleita, Provincial da PMMISER para aquele triênio, porém, foi reeleita Provincial no Capítulo de 2021, assumindo por mais 3 anos a função de continuar conduzindo a Provincia até 2023.
Nesse período como provincial, Irmã Cida, viveu sua vocação, com fidelidade, responsabilidade, sempre comprometida com a chama do amor do divino esposo. E em tudo, reafirmava sua missão: de Diretora espiritual, orientadora de retiros, ministradora de diversas formações de lideranças, animadora e dinamizadora dos momentos formativos com vivacidade. Era uma catequista que formava catequistas comprometidos e participava assiduamente de formações para formadores. Era amante da Pastoral Vocacional, uma cabeça cheia de ideias. Cuidava e orientava os leigos. Atendia a todos, mesmo nos momentos de cansaço e fraqueza. Sempre acolhia com sorriso e um abraço fraterno. Tinha sempre uma palavra que reanimava e confortava quem dela se queixava de algo. Era uma professora nata, uma pedagoga espiritual.
Como todo ser humano enfrenta diversos desafios na vida, Ir. Maria Aparecida Cosme chaves, também enfrentou alguns, e um deles foi o câncer. Em 2022, foi diagnosticada com um CA de mama metastático nos ossos. Esse diagnóstico, trouxe momentos tensos, de luta pela vida. Todo o processo de tratamento era em busca da cura, que a fez passar pela purificação, pela miséria humana, pela dor e sofrimento e pela experiência misericordiosa de sentir Deus no (a) outro (a), que revelou a expressão mais bela de sua Fé, pela capacidade de viver a Vida, com mais intensidade, desejo, alegria, reconhecimento, valorização, reciprocidade, onde para ela em tudo Deus tinha um propósito. Foi fazendo de cada conquista, momentos de oferenda a Deus. Era uma mulher de alegria, dinamismo, de confiança em Deus, sua vida passou a ser exemplo de fé, de reflexões profundas e espirituais, capaz de criar e recriar. Fazia cantos, rimas, mantras, e tantos outros sinais de reverência a Deus, pelo que ainda lhe restava da vida que Ele lhe concedeu. Nessa luta contra o câncer, ela sempre dizia que tinha muitos anjos: minhas Irmãs, todos os enfermeiros e médicos do Hospital João de Barros Barreto, destacava um de seus médicos, que tinha total admiração, pelo modo afetuoso, amigo e profissional, de cuidar dos seus pacientes: Dr. Rodnei Macambira; aos amigos benfeitores, todos os que cuidaram dela no hospital desde o porteiro até enfermaria, Sacerdotes e Religiosos (as) de perto e de longe, e de modo especial seus familiares na pessoa de seus pais: Estácio e Leopoldina. A todos(as) queria agradecer pessoalmente pelas inúmeras orações, e cordialidade, mas não foi possível, porém, saibam que ela é muito grata a todos, por tudo.
Reconheceu que diante da via cruzes que carregava, Deus a amava, muito mais, e esse amor a fez permanecer viva, no meio de nós. Tudo, nada mais era do que a sua Fé inabalável, que a sustentou até o último suspiro de sua vida. O câncer, não foi o seu inimigo, mas foi a sua escola de experiência pessoal e comunitária da Fé e de amor. E na madrugada deste último dia do mês de março à 01h:14min fez sua passagem para a vida eterna.
Por fim, Ir. Maria aparecida viveu a Vida e a Vocação com santidade, fidelidade, reverência e Gratidão. Pois, seu maior desejo era ser Religiosa, porque queria servir a Deus de um modo especial e assim conseguiu. Este ano de 2025, celebra, 40 anos de Vida Religiosa Consagrada, muito amor doado, compartilhado e repleto de ricas experiência de fé. Agora celebras no céu, ao lado de seu Divino Esposo.
Contudo, ela diz em seus escritos: “Assumi minha missão, me coloquei como serva de Deus, discípula, aprendiz e irmã menor. Procurei dar tudo de mim com alegria, responsabilidade e esperanças. Não fiz nada sozinha. Tudo fizemos juntos. Isso é bonito e gratificante. Foram anos de desafios e audácia evangélica para que de fato Jesus Cristo fosse amado e conhecido. Encerro minha missão, estou na obediência ao chamado, à vontade de Deus”. (Ir. Maria Aparecida – Escrito da Carta de Despedida de Tomé Açú em 2018).