Domingo de Ramos
“Desejei ardentemente comer convosco esta Páscoa” – Lc 22,14-23,56 – Domingo de Ramos – Com esta celebração damos inicio à Semana Santa, semana esta a ser vivida em profunda contemplação dos mistérios de nossa salvação. Por mais que nos dediquemos a conhecer, refletir e contemplar os mistérios que se celebram nesta santa semana, estaremos sempre em falta. As leituras deste dia são de uma riqueza incalculável. Na primeira Leitura, Isaías introduz a figura do “servo sofredor”, realidade vivida pelo profeta e sua comunidade no tempo do Exílio da Babilônia. Os cristãos viram na figura neste servo a prefiguração de Jesus. A segunda leitura nos vem da carta aos Filipenses. Trata-se do “hino cristológico” que, em poucos versículos, canta todo o mistério da salvação. O Evangelho relata a paixão e morte de Jesus, na versão de Lucas. Com a chegada a Jerusalém, Jesus completou seu “caminho”. Para Lucas, Jerusalém era o ponto de chegada e o ponto de partida de todo o itinerário de Jesus. O relato da Paixão e Morte, comum aos quatro evangelhos, é baseado em acontecimentos concretos, mas não é uma reportagem jornalística da condenação e morte do Filho de Deus. A narrativa é construída sobre práticas de condenação e morte da época, tanto do império romano, quanto do sinédrio judaico. Para o império romano, a pena máxima é a crucificação. Para a nação judaica, é o apedrejamento. Jesus foi assassinado por estas duas instituições. A narrativa da Paixão não visa dar informações históricas sobre o processo de julgamento, condenação e morte de Jesus. Seu objetivo é mostrar como Jesus, na cruz, concretizou o projeto salvador do Pai, dando sua vida por amor, na plena gratuidade. Esta entrega se dá em contexto de conflito extremo, em meio a uma violência sem precedentes, cuja vítima é um homem inocente que só fez o bem, que jamais poderia merecer tal condenação. É o grande grito dos seus seguidores que, perplexos, experimentam a força do mistério da iniquidade. Segundo os estudiosos, as narrativas da paixão foram os primeiros relatos escritos dos Evangelhos. A memória da morte cruel de quem só fez o bem, de quem amou ao extremo, foi a grande memória subversiva dos primeiros cristãos. O que Jesus havia feito para ser condenado e morto desta forma tão cruel? Seus seguidores eram testemunhas dos gestos e palavras de Jesus que passou entre nós fazendo o bem. Ensinou que Deus era amor e que não excluía ninguém, nem mesmo os pecadores; ensinou que os leprosos, os paralíticos, os cegos não deviam ser marginalizados, pois não eram amaldiçoados por Deus; ensinou que eram os pobres e os excluídos os preferidos de Deus e aqueles que tinham um coração mais disponível para acolher o “Reino”; avisou os “ricos” e “poderosos” que o egoísmo, o orgulho, a autossuficiência e o fechamento conduzem à morte. Este seu grande anúncio entrou em choque com o ambiente de opressão que dominava o mundo. Sua morte foi consequência do anúncio do “Reino”, foi o culminar de sua vida vivida no amor, no dom total, no serviço simples e humilde. Foi por amor que Jesus lutou contra a injustiça, a opressão, a maldade. Foi por amor que Jesus se deixou crucificar. É este amor que ressuscita Jesus e gera uma nova humanidade. Abraçar a cruz de Jesus é ressurgir das trevas e viver um mundo novo. Este mundo novo é proclamado pelos pobres que acolhem Jesus em sua entrada em Jerusalém, agitando ramos verdes. Não exibem armas, tanques de guerra ou bombas como vemos hoje na terra de Jesus. Que Deus nos ajude a viver a semana santa na contemplação do mistério do amor de Deus pela humanidade. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ