Domingo de Ramos
O fim de um caminho – Lc 22,14-23,56 ou Lc 23,1-49 – Domingo de Ramos – Com a chegada em Jerusalém e os acontecimentos da semana santa, chegamos ao fim do “caminho” de Jesus iniciado na Galileia. No Evangelho de Lucas, tudo converge para Jerusalém. É alí que deve irromper a salvação de Deus. Em Jerusalém, Jesus vai realizar a última atividade do programa anunciado em Nazaré: o Reino de Deus, esta grandeza onde os excluídos do mundo são os principais protagonistas. É em Jerusalém que Jesus fará sua entrega total e testemunhará seu amor pleno até morte de cruz.
A morte de Jesus precisa ser entendida no contexto de sua vida. Desde cedo, Jesus compreendeu que tinha a missão de “anunciar a Boa Nova aos pobres, sarar os corações feridos, pôr em liberdade os oprimidos”. Para concretizar esta missão, Jesus passou pelos caminhos da Palestina “fazendo o bem” e anunciando a proximidade de um mundo novo, de vida, de liberdade, de paz e de amor para com todos. Ensinou que Deus era amor e que não excluía ninguém, nem mesmo os pecadores. Ensinou que os leprosos, os paralíticos, os cegos não deviam ser marginalizados, pois não eram amaldiçoados por Deus, como afirmava a religião oficial. Ensinou que os preferidos de Deus eram os pobres e os excluídos, e todos aqueles que tinham o coração disponível para acolher o Reino. Avisou aos “ricos”, aos poderosos, aos instalados, que o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência, o fechamento conduzem à morte.
A boa nova anunciada por Jesus entrou em choque com a mentalidade que dominava o mundo, construído sobre o egoísmo, a opressão, a violência. As autoridades políticas e religiosas sentiram-se incomodadas com a denúncia de Jesus e não estavam dispostas a renunciar a esses mecanismos que lhes asseguravam poder, domínio, privilégios.
A morte de Jesus é a consequência lógica do anúncio do Reino. É o fim do caminho daquilo que Jesus pregou ao longo de sua jornada, com palavras e com obras, testemunhando amor, entrega, serviço.
A narrativa da paixão deste ano é a do Evangelho de Lucas, que traz alguns detalhes exclusivos como, por exemplo, no relato da instituição da Eucaristia. Só Lucas afirma que Jesus disse: “fazei isto em memória de Mim” (cf. Lc 22,19). Não se trata de repetir o ritual da última ceia e dizer as palavras de Jesus sobre o pão e o vinho, mas “fazer memória de mim” significa dar vida por amor, como Jesus fez.
Só Lucas coloca a discussão sobre qual dos discípulos seria o maior no contexto da ceia. O maior é “aquele que serve” e dá testemunho de uma vida feita serviço e doação.
No jardim das Oliveiras, só Lucas faz referência ao aparecimento do anjo e ao “suor de sangue” (cf. Lc 22,42-44). Acentua assim a fragilidade humana de Jesus que fica fiel ao Pai, mesmo na hora de suprema dor.
Também no relato da paixão aparece a ideia fundamental que perpassa toda obra de Lucas: os gestos concretos da bondade e misericórdia de Deus. No Getsêmani, (cf. Lc 22,51); Ele cura o guarda ferido por Pedro; na cruz Jesus exclama: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34); uma prece que nos deixa perplexos: Jesus morre pedindo ao Pai o perdão para os seus assassinos. O ponto culminante desta misericórdia sem limites está nas palavras que Jesus dirige ao malfeitor que morre numa cruz, ao seu lado: “hoje mesmo estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43).
O domingo de Ramos toma novas dimensões se bem olharmos trajetória de Jesus revelando o rosto de Misericórdia do Pai. É a grande aclamação de todos os que puderam saborear a misericórdia divina. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ