Carisma e Espiritualidade

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A espiritualidade pertence à esfera do divino. É o modo de vida onde o Espírito está presente, age, atua, comunica, inspira, determina a vida da pessoa. Tem a ver com amor, gratuidade, cortesia, beleza, mistério, motivações que não se explicam, mas que encantam e seduzem, razões que pertencem ao Mistério Maior.

A Fundadora da nossa Congregação Madre Alphonsa Kuborn viveu seu ideal de amor e entrega ao mistério divino, numa atitude profunda de intimidade com o esposo escolhido. Nesta intimidade se entregou totalmente como esposa nos braços do amado. A exemplo de São Francisco de Assis, assumiu amar o “amor que não é amado”.

A experiência do amor de Deus em Madre Alphonsa, sua relação íntima e profunda com Cristo Crucificado marcam sua existência. Ela nos deixou como modelo e fonte de espiritualidade, Jesus, o divino esposo crucificado. Sua vida foi um contínuo esforço para identificar-se com o divino esposo e por isso pôde dizer: “Só o Salvador pode preencher o coração de uma verdadeira Franciscana, de uma pobre religiosa; internamente livre e externamente pobre ela deve repetir constantemente: Nada me pertence a não ser Jesus o crucificado”.

Madre Alphonsa nos deixou poucos documentos escritos. O pouco que nos deixou revelam a sua profunda experiência de Deus, que caracterizam a sua espiritualidade: Ele é o “Senhor Crucificado”, o “divino esposo”, o “esposo escolhido”, o “divino Salvador”, o “Salvador amado”, o “Salvador crucificado”, o “Senhor e esposo Jesus Cristo”, “manso cordeirinho Jesus Cristo crucificado”, o “Senhor pobre”.

Além desta sua ardorosa relação com o divino esposo, alguns traços humanos dão o perfil de sua alma: era generosa e cheia de caridade, fazendo do exercício dessas virtudes o eixo de sua espiritualidade.

Carisma
Características da Espiritualidade e do Carisma
Gotas de espiritualidade
Carisma

Acima de tudo, a marca de sua vida e obra são a misericórdia, Carisma, identidade da Irmã Franciscana de São José. A lápide de sua sepultura é ícone de sua espiritualidade, que ampara a todos e todas, no abraço acolhedor e misericordioso.

Uma herança recebida do Pai São Francisco, que beija e abraça o leproso, transformando a amargura em doçura.

A nossa Congregação é assim marcada por estes traços de Espiritualidade. Profundamente evangélica, inspirada no Santo de Assis, na entrega plena ao esposo escolhido, a Irmã busca fazer da misericórdia a sua identidade.

Características da Espiritualidade e do Carisma

Madre Alphonsa nos deixou poucos documentos escritos. O pouco que nos deixou testemunha uma alma generosa e cheia de caridade, fazendo do exercício dessas virtudes a mola-força de sua espiritualidade. A marca de sua vida e obra é “A Misericórdia”.

À frente de um grupo que exige dedicação, esforço e que ocupa grande parte de seu tempo, Madre Alphonsa não esquecia nunca os pobres e abandonados. “É o traço marcante que envolve sua existência”. A miséria encontra sempre os braços abertos de Madre Alphonsa.

Seu coração não conhecia limites e anseia abraçar sempre mais crianças órfãs e desamparadas de todas as classes sociais que vêm de todos os lados. E todos encontram um abrigo. Quando não há espaço para receber os doentes na própria casa, as Irmãs vão atendê-los a domicílio!

A Misericórdia de Madre Alphonsa transpirava em todo seu agir. Seu coração, ansioso por bem fazer, ia à procura dos necessitados, dos rejeitados por todos. A caridade tomou forma própria na sua personalidade, tornando-a “corpo misericordioso”. As suas Irmãs eram arrastadas a imitar-lhe o exemplo.

O conteúdo das virtudes que Madre Alphonsa cultivou, dos valores que defendeu e das limitações que, como ser humano, experimentou, ela o deixou impresso em seu retrato vivo que é a própria CONGREGAÇÃO DAS IRMÃS FRANCISCANAS DE SÃO JOSÉ.

Gotas de espiritualidade

Nas Orações que até nós chegaram, aparecem realçados, de modo especial, seus sentimentos de inquietação, incerteza, angústia e confiança. Com efeito, mesmo nas maiores dificuldades, quando parecia que tudo estava contra ela, Madre Alphonsa nos desvendou o segredo da sua vitória: a Confiança em Deus.

“Ó, como são doces todos os esforços e sofrimentos, numa tão querida companhia! Ó, isto me dará tanto vigor e força, que penso tudo poder realizar.”

“Não devo tomar o cálice que o Pai me ofereceu?” – Assim falaste, ó meu divino Salvador, em perfeita obediência à vontade de Teu Pai.

Ó meu querido Jesus, fortifica também as minhas fracas forças e aumenta a minha fé e o meu amor, para que, submissa, aceite o cálice que o Pai me oferece, que aceite os meios, agradáveis ou tristes, pelos quais Lhe apraz conduzir-me à Salvação.

Curando ou flagelando, Ele permanece Pai. Por isso, quero seguir o que o Pai ordena.

Então, Ele baixará Seus olhos com alegria sobre mim e me amará e abençoará como sua filha.

Ó Jesus, ensina-me a olhar para Ti no meu sofrimento, ensina-me a assemelhar-me a Ti na dor, suportar Contigo, Contigo carregar a cruz e triunfar Contigo. Tu suportaste tanto, e em Ti não havia sombra de pecado!

Poderia eu negar-me a beber o cálice amargo que Tu sorveste até à última gota?.

O mistério do Teu amor, do Teu sofrimento e Tua desolação mortal no Jardim das Oliveiras, sejam meu consolo, minha força e contigo quero exclamar: – Pai, não se faça a minha vontade, mas a Tua!

Feliz de mim, quando o sofrimento me encontrar na Tua escola de correção e me arrancar das misérias ofuscantes deste mundo!

Contradições e sofrimentos mostram a futilidade de tudo o que é temporal. Com a aflição aprendo a unir-me mais a meu Deus. Sim, quanto mais abandonada pelas criaturas, quanto mais suspirar por consolação e ajuda!… porque vão é o agrado das criaturas e inconstantes seus corações!

Tudo, tudo é vaidade – vaidade das vaidades! Tudo o que é terreno é só ilusão. Somente a consciência dos deveres compridos é a verdadeira felicidade, o verdadeiro contentamento.

A virtude firme e inabalável aí está no meio do sofrimento e aflição, como a rocha em meio à tempestade marítima!

Somente uma coisa Te peço, querido Jesus, preserva-me, guarda-me de toda ilusão. Deixa-me conhecer como sou, pois não tenho outro guia, senão a Ti!

Ó, quanto tempo suspiro sequiosa e, como é vazio e seco este meu coração! Onde está a fonte em que posso saciar-me? Não há ninguém que dê alívio ao meu coração?

Aqui, onde ninguém me ouve, nem pode entender a minha dor, só Tu, meu Deus misericordioso, estás comigo e por mim! Quero procurar para o meu coração angustiado o alívio para minha alma sedenta.

Onde deveria procurar outra saída para o meu sofrimento, a não ser em Ti, meu Deus e Pai, já que Tu bem o conheces e só Tu tens o poder de aliviá-lo? Senhor, Tu és minha força e vigor, meu refúgio no dia da angústia!

Ó meu querido Jesus! Tu convidas todos os aflitos e sobrecarregados para virem a Ti, mas, eu pecadora, não ouso achegar-me a Ti! Ó, tira este medo do meu coração, pois, Tu mesmo me convidas: Vinde a mim! Então, quero achegar-me ao Teu amoroso coração que quer abrir-se a todos os aflitos e sobrecarregados, sofredores e pecadores e que anseia atrair a todos!

Mas que me queres dar, ó meu Jesus? – Quero dar-te tranqüilidade. Sim, é isto que me falta, ó meu Jesus! A inquietação maltrata meu coração, cada vez que me afasto um passo de Ti. Fora de Ti não encontro tranqüilidade.

Nada pode satisfazer meu coração, nada pode trazer-me a paz. Só Tu, só Tu podes ajudar-me!

O que me falta, Tu o tens, o que necessito, Tu mo podes dar! – Ó Jesus, tem piedade de mim e ajuda-me!

Ó, não deixes vacilar a minha confiança! – Dá-me o que Te peço: dá-me força e vigor para perseverar até o fim e glorificar-Te no sofrimento!

Escuta-me! Alimenta-me! Estende-me a Tua mão, pois vê, tenho receio de afundar, de sucumbir!

Ó Jesus, tem piedade da mais miserável e necessitada! Adoro, antes de tudo, Tua Providência, Teus santos desígnios, sapientíssimo e bondoso Pai. Profundamente, profundamente inclino-me debaixo de Tua mão que, paternalmente, me corrige. Eu não ouso perguntar: Por que justamente eu carrego a pesada cruz e não um outro?

Só Tu és o Senhor! Faça-se a Tua vontade! Tu, certamente, viste que meu coração duro e superficial, sem sofrimento e aflição, longe de Ti, Te esqueceria e assim, me perderia, sim, sem nunca Te ter amado, nunca ter amado o AMOR!

Ó, que a cruz!. . . O caminho da humilhação me conduza ao amor perfeito, à perfeita união Contigo, Jesus, meu Salvador, meu Tudo! Ó, dá-me isso! Sim, prega-me na Tua cruz para que me seja impossível afastar-me de Ti!

Ó meu Jesus, Tu que a carregaste tão pacientemente, ensina-me também esta conformidade pura (de criança) em todas as Tuas santas disposições!

Deveria eu caminhar sobre rosas, onde Tu seguiste o caminho de espinhos, por mim? – Foram ultrajes e vergonha, calúnia, escárnio e morte. Reconheço: – o que é tudo isto em comparação com o Teu sofrimento, Teu amor por nós e o que poderia eu sofrer que não merecesse?

Sim, os meus pecados mereceram infinitamente mais que eu tenho capacidade de suportar! Quero esta pena, permitida para minha conversão, aceitar com gratidão, louvar-Te por ela, que por meio disto me salvaste! Só, ó meu Deus, só isto eu Te peço.

Meu coração no silêncio, na serena disposição, na qual possa agradar a Ti que disseste: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”! para que encontre tranqüilidade para minha alma e Teu jugo me seja suave e Teu fardo leve!

Sim, Pai, ajuda Tuas filhas, a carregar as aflições que a vida lhes impõe. És Tu que me inspiras consolo e constância, e misturas a amargura dos meus sofrimentos com doçura celestial e me concedes momentos e horas, onde, na consciência dos meus sofrimentos, sinto uma tal alegria interior, júbilo de alma que os dias mais felizes, não me puderam dar!

Ó, quanto significam esses dias desoladores e como logo desaparecem! Então saberei não abandoná-Lo, e Ele também não me abandonará.

Ó, como são doces todos os esforços e sofrimentos numa tão querida companhia! Ó, isto me dará tanto vigor e força que penso tudo poder realizar!

Meu corpo deve trabalhar, meu coração estar com Ele. O olho esquerdo no trabalho, o direito e todo meu coração contemplar Aquele que se digna estar na minha companhia.

Ó meu Jesus, que Tu me tornes digna desta graça: Quero realizar cada trabalho como se tivesse que realizar somente isto, sem precipitação e inquietação; o trabalho pior e mais humilde, com o maior zelo e fervor.

Durante o trabalho, eu quero entreter-me com o meu querido Jesus, quero tratá-Lo como a um amigo íntimo.

Se o trabalho é de tal cunho que deve ocupar toda a minha atenção, nele quero, no entanto, conservar meu coração voltado para Ele, e tão logo termine, quero voltar rapidamente a Ele, porque, quando estou com Jesus, não posso ofendê-Lo, nem cessar de amá-Lo. Ó Jesus, ajuda-me a alcançar esta grande graça: Com meu coração e com todo o meu ser, sempre na Tua doce presença, permanecer sempre contigo.

Em todo meu agir, seja meu constante desejo só agradar a Jesus, nunca O ofender e isto, por puro amor e não em meu proveito ou minha perda.

Busca o teu consolo na cruz de Jesus. Depois dos espinhos surgem as rosas. Faze o que prometeste a Deus. Nada pode ser considerado mau, a não ser o pecado.

Ó meu Jesus, que minha vida decorra em amor, em privação, em trabalho e silêncio e termine com o sacrifício na cruz.

Como meu santo Padroeiro, Santo Afonso, quero, em todos os sofrimentos e aflições, jogar-me nos braços do meu Redentor e, confiante, exclamar: Deus me basta!

Nada procurar, nada desejar, somente Deus. Só sua honra e a de sua Santíssima Mãe.

Sob o auxílio de Deus e sob a proteção e intercessão de minha Mãe Maria e de São José, me proponho: 1º – Procurar Deus em todas as coisas e, em todas as coisas, tentar encontrá-Lo. 2º – Fazer tudo para a maior glória de Deus. 3º – Empregar todas as forças para conseguir uma tão perfeita obediência que esteja pronta para sujeitar-me à vontade e ao juízo dos meus superiores, como Jesus Cristo mesmo o fez em tudo. 4º – Nada procurar neste mundo, a não ser o que Jesus Cristo mesmo procurou, isto é: Salvar almas, trabalhar e sofrer pela sua salvação, morrer por amor a Jesus.

Pai, glorifica Teu nome em mim e por mim, porque para este fim escolhi uma vida de sacrifício. Não me poupes, ó meu Pai, porque, sejam quais forem as provações que me enviares, Jesus será a minha força, minha luz, meu apoio. Com Teu auxílio glorificarei o Teu nome. Amém.

Antes de levantar, quero saudar a querida Mãe Maria e entregar a seu amoroso e maternal coração todos os meus desejos, grandes e pequenos. Que tudo aconteça segundo a vontade de Deus.

A alma inquieta ergue seus olhos a Ti. A ti, Rainha do Céu e nossa. E quando, então, a noite tenebrosa da morte me rodear, com fé confiante, aguardo a feliz hora, pois, lá vive a Mãe do meu Jesus. E quando meu olhar se apagar, e um silêncio erguer-se ao alto, aguarda-me o teu olhar infinitamente fiel.

Deixa-me ir com alegria para o além, para o meu Salvador e Deus, ver-Te, lá na Tua glória e, em profunda gratidão, correr ao Teu encontro”!

“Ó Maria, toma meu coração, que seja Teu. Guarda-o puro de todo pecado. Ó guarda-o sempre cheio de gratidão e de amor, sempre, sempre, por ti inflamado. Clamo por ti, ó Virgem Mãe.

Sê minha protetora, conselheira e valia. Ó, olha como as ondas se erguem. Como a morte e perdição me cercam!