Através da figura
“Através da figura” – Lc 9, 28-36 – Estamos no segundo domingo da quaresma, em contexto de CF com o Tema: “Fraternidade e politicas públicas” e o lema: “Serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is 1, 27). O relato do Evangelho nos oferece uma rica catequese a propósito da pessoa, missão e mistério de Jesus. Desde nossa infância ouvimos a narrativa sobre a chamada “transfiguração de Jesus”, episódio presente nos três Evangelhos Sinóticos. Muito já se falou, escreveu e se refletiu sobre esta cena misteriosa presente nos Evangelhos. Não se trata de saber se é um fato histórico. Interessa-nos a teologia que o relato quer traduzir por meio de linguagem tão figurada. Longe de pretender alcançar toda a sua profundidade, algumas pistas de reflexão podem ser oportunas para nós hoje. A cena se dá em contexto conflituoso. Jesus anuncia sua paixão e os discípulos não conseguem compreender que seu mestre, uma pessoa que só faz o bem, possa ser perseguido, caluniado, incompreendido e morto. O episódio da transfiguração é como que uma parada no meio da estrada, um momento de rever o caminho percorrido e refazer energias perdidas. O episódio se dá no alto de um monte, lugar simbólico. Indica a presença divina e possibilita também ampliação de horizontes. Enxerga-se mais ao longe. São muitas as imagens presentes neste episódio. Elas como que “transpassam” a figura de Jesus e evocam todo o Antigo Testamento: monte Sinai e o esplendor da teofania, presença de Moisés e Elias, rosto transfigurado como de Moisés, adormecimento como Adão na criação, tendas, nuvem, palavra que vem das nuvens. A cena da Transfiguração é o “novo Sinai”, onde Jesus é o “escolhido” e é a Ele que se deve ouvir e seguir. Está no alto de um monte, com apenas três dos discípulos, talvez os de maior liderança. Segundo Lucas, “Jesus orava”. “Enquanto orava, seu rosto mudou de aparência e suas vestes brilhavam de tão brancas”. Moisés e Elias presentes falam sobre a morte de Jesus. Pode parecer estranho: em meio ao esplendor da figura de Jesus, o assunto é a morte. Certamente é este um dos objetivos mais significativos da narrativa: por meio da figura de Jesus se revela todo o mistério da salvação que passa pela cruz. Uma provocação para cada seguidor e seguidora de Jesus. A nossa “transfiguração”, ou seja, através de nossa figura anunciar ao mundo o mistério da salvação, que promete uma felicidade plena, mas que passa pela morte e morte de cruz. Que nossas aparências, ou seja, nossas figuras visíveis sejam manifestação da salvação de nosso Deus! E que ouçamos a voz que vem das nuvens: “ESTE É O MEU FILHO, MEU ELEITO. ESCUTAI-O”. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ