8º Domingo do Tempo Comum – 02.03.25
“Tirar do bom tesouro do seu coração” – Lc 6, 39-45 – Neste 8º domingo do Tempo Comum a Liturgia já nos convida a entrarmos no clima de mudança de vida, visto que o próximo domingo já é o primeiro da Quaresma. Vencer a tentação permanente da autorreferencialidade e optar pelo caminho que leva à vida é o grande apelo de Jesus. A primeira leitura, do livro do Eclesiástico, traz conselhos de profunda sabedoria: “os defeitos do homem aparecem nas suas palavras”. Não se deixar levar pelos discursos de quem se projeta a si mesmo. Quem não produz frutos não tem autoridade no que diz. No Evangelho Jesus alerta seus discípulos a não se deixarem enganar pelos “guias cegos”, pessoas que se acham cheias de sabedoria, mas que são arrogantes e prepotentes, se consideram protagonistas para defender interesses pessoais. Continuamos com o “sermão da planície” na versão de Lucas. Jesus fala à “grande multidão”, mas seu foco principal se volta para os discípulos. Lucas reúne diversos “ditos de Jesus” que, segundo estudiosos, seriam “sentenças” proclamadas em tempos e lugares diversos. Assim sendo, o discurso visa ajudar as comunidades cristãs que, em torno dos anos 80, estavam sendo ameaçadas por falsos mestres, com sede de poder e protagonismo pessoal, que seduziam por falsas doutrinas. Não eram fiéis aos ensinamentos de Jesus. Desviavam do Evangelho. Sob o ponto de vista literário, o texto pode ser dividido em duas partes. Na primeira, há o recurso de perguntas que obrigam os ouvintes a pensarem e darem uma resposta pessoal . Na segunda parte encontramos pistas para o correto discernimento. As perguntas feitas por Jesus, em Lucas, não se dirigem aos fariseus e doutores da Lei, como em Mateus. Trata-se de mestres cristãos, cheios de si, com doutrinas pessoais, que desviam da verdade do Evangelho. São cegos que se colocam como guias. Ainda mais: são cheios de certezas e de seguranças, que vivem convictos de sua verdade, impõem aos outros as suas convicções. Por que vês o argueiro que o teu irmão tem na vista e não reparas na trave que está na tua? Os discípulos de Jesus, que dão ouvidos a esses falsos mestres, perdem o rumo e desviam-se do caminho do Reino. Um risco que a Igreja corre sempre de novo e, atualmente, chega a assustar a intensidade da atuação desses falsos mestres cristãos. Na segunda parte deste Evangelho, Jesus ajuda a perceber quem são as pessoas que, dentro da comunidade, são “bons mestres” ou “falsos mestres”. Mais uma vez Ele utiliza imagens conhecidas dos ouvintes e que ajudam a pensar e tirar as próprias conclusões. Duas pequenas parábolas servem para tal discernimento. Uma é a das árvores boas que dão bons frutos e das árvores más que dão maus frutos. A árvore é conhecida por seus frutos. São as ações que confirmam ou não o discurso dos mestres cristãos. A outra imagem é a do coração do homem: “O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem: e o homem mau, da sua maldade tira o mal; pois a boca fala do que transborda do coração”. Quem cultiva a intimidade com Jesus, quem é fiel à sua palavra e observa seus ensinamentos, dá bons frutos. São frutos de união, fraternidade, partilha, amor, reconciliação, vida nova. Ao contrário, tanto ontem quanto hoje, os falsos mestres geram egoísmo, orgulho, autossuficiência. É preciso zelar pelo bom tesouro do coração. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ