7º Domingo do Tempo Comum – 23.02.25
“Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso”. – Lc 6,27-38 – A liturgia deste sétimo domingo do Tempo Comum nos convoca a entrarmos na lógica do amor, da misericórdia, da compaixão e a superarmos nossa velha lógica retributiva do “olho por olho, dente por dente”. O Evangelho está em continuidade aos dos domingos anteriores. Jesus tinha passado a noite em oração num monte da Galileia. Especialmente em Lucas, Jesus, antes de tomar decisões importantes, se retirava e falava com o Pai. No contexto do evangelho deste domingo, depois de o dia nascer, Jesus reuniu os discípulos e, de entre eles, escolheu “Doze”, chamando-os de “apóstolos”, ou seja, de “enviados”. Depois Jesus desceu do monte, acompanhado pelos discípulos e encontrou, à sua espera, “uma grande multidão de toda a Judeia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e Sídon, que acorrera para o ouvir e ser curada dos seus males”. Era gente que queria ver e ouvir Jesus e serem libertados de seus males. E Jesus deu, para esta multidão, as “instruções” necessárias para fazer parte do Reino. Temos então as quatro “bem-aventuranças” e as quatro “maldições”. Neste conhecido “sermão da planície”, Jesus define os traços fundamentais da identidade do verdadeiro discípulo. O que lemos neste 7º domingo é uma espécie de aplicação concreta das “bem-aventuranças” e dos “ais” do domingo anterior. O amor é o núcleo de tudo. Inicia dirigindo-se aos ouvintes atentos: “Digo-vos a vós que Me escutais”. E segue com quatro imperativos fortes e exigentes: “Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam; abençoai os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos injuriam”. São exigências que deveriam comandar todas as relações humanas, mas que, infelizmente, não é esta a realidade humana. O amor ao próximo já estava presente no AT, mas se definia quem era o “próximo” e quem não. “Próximo” eram os membros do mesmo povo. Os demais eram “inimigos”. Até se poderia ajudar um inimigo, mas se fazia para humilhar: para “o fazer corar de vergonha” (cf Pr 25,21). Para Jesus o mandamento “amar o próximo”, amar o outro. Esse “outro” pode ser o “inimigo”, um não pertencente ao povo, ou aquele que nos odeia, que nos calunia e amaldiçoa, que não pertence ao nosso povo. Certamente Jesus terá gerado indignação entre seus ouvintes, especialmente as elites religiosas. O que Jesus ordena é algo impossível para um judeu. Mas Jesus acrescentou algo ainda mais desafiador “a quem te bater numa face, apresenta-lhe também a outra; e a quem te levar a capa, deixa-lhe também a túnica. Estaria Jesus pedindo uma atitude passiva de seus discípulos? Certamente os discípulos vão reagir. Na paixão Jesus não ofereceu a outra face ao levar a bofetada, A boa nova que Jesus traz é a importância de romper com a espiral do ódio e da violência. E prossegue com novas atitudes de rupturas com a lógica humana: “Dá a todo aquele que te pedir e ao que levar o que é teu, não o reclames”. A compreensão do direito de posse é muita mesquinha na lógica humana. E Jesus acrescenta ainda a grande regra de ouro: “tudo o que quiserdes que os homens vos façam, fazei-lhe vós também”. Para Jesus, a igualdade de direitos rompe com qualquer hierarquia. O amor aos inimigos se concretiza ainda mais: “fazei o bem e emprestai, sem nada esperar em troca. Não esperar devolução, nem gratidão, nem alguma forma de retribuição. E no coração do anúncio de Jesus temos o grande mandamento: Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso. O modo de ser misericordioso como o Pai, se concretiza nos quatro imperativos seguintes: Não julgueis e não sereis julgados. Não condeneis e não sereis condenados. Perdoai e sereis perdoados. Dai e dar-se-vos-á”. Este é o rosto do nosso Deus. Para quem quer ser discípulo de Jesus, não há outro caminho a seguir. E uma Congregação Religiosa, que tem o Carisma da Misericórdia, encontra no Evangelho o seu caminho de seguimento. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ