Solenidade da Assunção de Maria
Bendita és tu, Virgem Maria! – Lc 1,39-56 – Solenidade da Assunção de Maria – A Liturgia do 20º domingo do Tempo Comum, no Brasil, é substituída pela da Solenidade da Assunção de Maria, cuja festa se celebra no dia 15 de Agosto. As leituras bíblicas da festa deste dia nos introduzem na contemplação do grande mistério da Assunção da Mãe de nosso Deus, elevada ao céu e coroada por seu Filho ressuscitado. A primeira Leitura, do livro do Apocalipse, por meio de uma forte linguagem simbólica, mostra a luta histórica entre o mal, com sua poderosa força, e o bem que se revela na fraqueza. Aqui se confirma a famosa frase de Paulo: É na fraqueza que está a força de Deus. O Evangelho deste dia já foi ouvido muitas vezes. Sabe-se quase de memória. Mas, certamente, se faz necessário ir além do já conhecido, atravessar cada palavra e aproximar-nos dos personagens que protagonizam o relato. Ver o que é atribuído a cada uma das pessoas presentes. Olhando um pouco mais de perto lemos que quando Maria soube da gravidez de Isabel, “saiu apressadamente”. Acreditou na boa nova do anjo e correu depressa ao encontro da vida. Chegando, Maria entra na casa de Zacarias e saúda Isabel… Certamente não se trata de uma distração do evangelista ao nos escrever tal detalhe que Maria saúda Isabel. A casa, espaço preferencial da mulher, é também a grande boa nova trazida por Jesus. A casa, de ora em diante, será o lugar do encontro da nova comunidade, da Igreja. Na casa Isabel acolhe Maria e é neste espaço que Maria garante a visibilidade de Isabel, até então “escondida”. A mulher, a quem era negado o direito à palavra, que se manteve escondida por cinco meses, agora assume a louvação pública da ação do Senhor. Não só isto, mas o fundamental da teologia mariana está colocado na boca de uma mulher, que é idosa e estéril. Realmente a revelação dos mistérios mais profundos de Deus vem dos pequenos, dos fracos, dos pobres, dos excluídos. Vale retomar as afirmações que Isabel, “cheia do Espírito, exclamou em alta voz: – “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre; “Como mereço que a Mãe do meu Senhor venha me visitar”?; “Feliz aquela que acreditou”; “O menino saltou de alegria em meu ventre”.- O evangelista ainda detalha que Isabel proclama em “altos brados”, em alta voz. Não foi apenas um murmúrio. Quem era silenciada, humilhada, agora proclama, grita, solta a voz, e isto em altos brados. O menino salta de alegria – O ventre de Isabel, ventre de uma mulher estéril e idosa, é um ventre profético. Faz o menino saltar de alegria, antecipar a alegre boa nova de Jesus, anunciar a esperança, proclamar a boa notícia da salvação que se aproxima. Neste encontro destas duas mulheres marginalizadas: uma idosa e estéril, outra muito jovem, não casada e grávida, se revela a misericórdia de Deus. Ainda mais: dentre as proclamações proféticas de Isabel neste cenário da visitação, duas delas são de especial revelação. “Como mereço que a Mãe do meu Senhor venha me visitar” e “Feliz aquela que acreditou”. A mãe do meu Senhor! Isabel confessa sua fé e proclama Maria como a “mãe de Deus”. Numa cultura patriarcal, a confissão vem de Isabel, mulher estéril e idosa. Não vem do sacerdote Zacarias, que continua mudo. Na casa, fora do espaço religioso oficial, a mulher silenciada, escondida, humilhada revela-se uma grande teóloga. Feliz aquela que acreditou. Maria é reconhecida como feliz, imagem pouco explorada na piedade, na espiritualidade e até mesmo na Teologia Mariana. Ela é mais vista como a mulher do Sim, a Virgem, a Serva do Senhor, a mulher vigilante e atenta, a Mãe das Dores ao pé da cruz. Na festa da Assunção de Maria poderíamos dar um novo título a Maria: Nossa Senhora da Alegria, pois ela é “cheia de graça”, é “feliz porque acreditou”, foi elevada ao céu, coroada por seu Filho Ressuscitado. As razões da alegria de Maria é muito bem expressa no Magnificat, cântico este que nos convoca ao silêncio contemplativo. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ