14º Domingo do Tempo Comum

04/07/2024

Que sabedoria é esta! Mc 6,1-6 – A liturgia deste 14º domingo do Tempo Comum dá continuidade ao Evangelho de Marcos e tem como foco a fraqueza das pessoas que Deus chama para o seguimento e o anúncio de sua Palavra. A primeira leitura traz aspectos da vocação de Ezequiel, um profeta que vive no exílio da Babilônia. Na segunda leitura, Paulo mostra a sua fragilidade pessoal e alerta a comunidade de Corinto para a experiência da fraqueza, na qual se mostra o divino poder. O cenário do Evangelho de hoje é Nazaré, uma pequena vila da Galileia, 22 Km distante do Lago de Tiberíades. Esta povoação, tipicamente agrícola, nunca teve grande importância no universo na história do judaísmo. O Antigo Testamento ignora-a completamente. Nazaré é uma aldeia ignorada. No entanto, foi ali que Jesus cresceu e onde residia sua família. O relato de Marcos informa que Jesus esteve na Sinagoga de Nazaré, num sábado. Qualquer adulto da comunidade judaica podia fazer uso da palavra para ler e comentar as Escrituras. Em Cafarnaum (cf. Mc 1,21-28) Jesus já havia feito uso do seu direito e o povo ficou maravilhado. Reconheceram a autoridade de Jesus, diferente dos doutores da Lei. Em Nazaré, depois de escutarem Jesus, os seus conterrâneos traduzem a sua perplexidade através de várias perguntas: Qual a origem e a qualidade dos ensinamentos de Jesus?:  “de onde lhe vem tudo isto? Que sabedoria é esta que lhe foi dada?” E a qualidade das ações de Jesus: “e os prodigiosos milagres feitos por suas mãos?”. Recordam a “normalidade “de sua família.  Eles conhecem a família de Jesus e nunca viram nada de extraordinário nela: Ele é o “filho de Maria” e os seus “irmãos e irmãs” são gente “normal” e todos, em Nazaré se conhecem. Jesus é “o carpinteiro”, não é um “rabbi”, nunca estudou as Escrituras com nenhum grande mestre. Assim sendo, não é normal o que Jesus faz. Outra questão: estas capacidades que Jesus revela, que não aprendeu de mestres famosos e nem de sua família tão simples, vem de Deus ou do diabo? Os comentários dos habitantes de Nazaré mostram uma atitude negativa e um tom depreciativo na análise de Jesus. Nem sequer se referem a Jesus pelo próprio nome, mas usam sempre um pronome para falar d’Ele. Usam ainda um termo depreciativo “o filho de Maria”, uma vez que, na cultura judaica,  a referência era o pai e não a mãe. Os habitantes de Nazaré ficaram indignados com Jesus, pois os mestres do judaísmo já haviam lhe desautorizado de agir assim tão fora do judaísmo oficial. Os seus conterrâneos não conseguem reconhecer a presença de Deus naquilo que  Ele diz e faz. E Jesus experimenta a verdade do provérbio: “Um profeta só é desprezado na sua terra, entre os seus parentes e em sua casa”. Jesus se assume como profeta, como alguém enviado por Deus. Seu ensinamento não vem de mestres judaicos, mas de Deus. Ao longo da história, os gestos proféticos ajudaram o povo a reconhecer Deus em ação. O fato de os líderes religiosos, os seus conterrâneos e seus familiares rejeitarem as propostas de Jesus significa que negam a verdade e a procedência divina de Jesus. Esta falta de fé impede de Jesus realizar milagres em Nazaré. Ele “curou alguns doentes impondo-lhes as mãos”. Seriam pessoas que manifestavam certa abertura de coração. A falta de fé do povo de Nazaré surpreende Jesus. A atitude de fechamento de seu povo gera perplexidade. Conhecedor da vida sofrida de seus conterrâneos, certamente Jesus desejava ajudá-los superar a escravidão e abraçar, com alegria, a boa nova por Ele anunciada. Não encontrou corações abertos para acolher a Boa Nova do Reino de Deus. Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ