FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA
“Meus olhos viram a vossa salvação” – Lc 2,22-40 – Festa da Sagrada Família, último dia do ano civil! A liturgia nos traz a apresentação de Jesus no Templo de Jerusalém, um relato a ser contemplado em sua teologia e não como notícia jornalística. Trata-se de uma reflexão posterior, bem amadurecida, que procura anunciar quem é Jesus e qual a sua missão no mundo. O interesse fundamental dos primeiros cristãos não estava centrado na infância de Jesus, mas na sua mensagem e proposta; por isso, a catequese cristã dos primeiros tempos interessou-se, de forma especial, por conservar as memórias da vida pública e da paixão do Senhor. Os relatos da Infância são elaborações posteriores. Assim sendo, Marcos, o primeiro Evangelho escrito, nada diz da infância de Jesus. Mateus e Lucas, mesmo sob óticas bem diferentes, desenvolvem a temática. João, o último dos Evangelhos escritos, inicia com um hino, de profundidade teológica muito rica, mas nada diz sobre a Infância. Repetindo, o interesse dos evangelistas não está em relatar fatos da Infância de Jesus, mas em revelar quem é Jesus. Os relatos presentes nos Evangelhos visam anunciar Jesus como o Messias, o Salvador do mundo. O quadro da apresentação de Jesus no Templo que Lucas relata, tem sua origem na Lei de Moisés, em que todos os primogênitos, tanto humanos quanto animais, pertenciam ao Senhor e deviam ser oferecidos a Javé (cf. Ex 13,1-2.11-16). Entre os judeus, os primogênitos humanos não eram sacrificados, mas resgatados, ou seja, imolava-se um animal. No caso de Jesus, o seu resgate foi feito pela menor oferta possível: um par de rolas ou duas pombinhas. Mesmo que se considere a singeleza da oferta para resgate, o evangelista destaca a fidelidade da família de Jesus às Leis e deixa claro que Jesus nasceu sujeito à Lei e que sua vida foi de total fidelidade ao projeto do Pai. Dois personagens acolhem Jesus no Templo: Simeão e Ana. São duas figuras de grande significado simbólico: representam o Israel fiel que espera ansiosamente a sua libertação e a restauração do reinado de Deus. De Simeão se diz que era um homem “justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel” (v. 25). As palavras e os gestos de Simeão são particularmente sugestivos… Simeão toma Jesus nos braços e apresenta-O ao mundo, definindo-O como “a salvação” que Deus quer oferecer “a todos os povos”, “luz para se revelar às nações e glória de Israel” (vv. 28-32). A salvação é para todos os povos. As palavras que Simeão dirige a Maria mostram que Jesus será um sinal de contradição. Ana, viúva, representa o povo pobre e sofredor, que se manteve fiel a Javé e que espera a salvação de Deus. Tornou-se logo a missionária que “falava do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém” (v 38). O texto termina com uma referência ao resto da infância de Jesus e ao crescimento do menino em “sabedoria” e “graça”. Lucas, o artista da palavra, desenha uma família na qual Deus é o centro de tudo. Uma família assim constituída, leva-nos a cantar junto o velho Simeão: “Meus olhos viram a vossa salvação”. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ