3º Domingo do Advento

14/12/2023

A voz que se ouve no deserto –  Jo 1,6-8.19-28 –  A liturgia do 3º domingo do Advento é de uma riqueza sem medidas. É o chamado “domingo da alegria”, pois a “boa notícia” anunciada pela Palavra de Deus enche de alegria o coração de todos os filhos e filhas de Deus. Na primeira leitura, temos o profeta que anuncia aos habitantes de Jerusalém a “boa nova” de Deus (Is 61,1-2a.10-11). A missão deste “profeta”, ungido pelo Espírito, é anunciar um tempo novo, de vida plena e de felicidade sem fim, um tempo de salvação que Deus vai oferecer aos “pobres”. Esta missão será depois plenamente assumida por Jesus conforme lemos em Lucas, quando Jesus entra na sinagoga de Nazaré e faz a leitura deste texto de Isaías (cf Lc 4,18-19). O Evangelho deste domingo é do evangelista João. Apresenta-nos João Batista, curiosamente inserido na composição de parte do chamado “prólogo” (cf Jo 1,1-18). Este prólogo pode ser um primitivo hino cristão no qual se professava os principais mistérios da fé e os grandes temas o Evangelho de João. O binômio “trevas e luz” é um dos que perpassam todo o prólogo e se estende ao longo do Evangelho. Para compreendermos melhor o Evangelho de João, escrito em linguagem muito simbólica, insistindo na vida e “vida plena”, é preciso ter em conta o ambiente político, social e religioso da Palestina do século I. Dominado pelos romanos, o povo vivia humilhado, explorado por uma classe dirigente instalada nos seus privilégios, escravizado por um sistema religioso ritual e legalista, era grande o anseio pela chegada de um Messias libertador. Os líderes religiosos judaicos não gostavam de ouvir falar na chegada do Messias, pois um dos objetivos do Messias, segundo a concepção corrente, seria a reforma das instituições, o que afetaria a estrutura religiosa judaica e os privilégios da hierarquia sacerdotal. A palavra e ação de João Batista gerava inquietação e investigação. Olhando o Evangelho mais de perto, vemos que na primeira parte do texto temos a apresentação de João (vv 6-8). É um “homem” que foi “enviado por Deus”. Isto significa que é Deus que age na história, e age por meio de João. Sua missão é “dar testemunho da luz”. A luz representa a realidade que vem de Deus, o mundo novo, sonhado por Deus. Isto já se revela no relato da criação: a primeira obra criada é a “luz”.  Na plenitude dos tempos, a própria luz se encarna nas trevas. João não é a luz; ele é apenas “a testemunha” que vem preparar a humanidade para acolher “a luz/vida”. Segue uma segunda parte (vv 19-28) na qual temos o “testemunho” de João. Uma “comissão oficial”, enviada de Jerusalém, se aproxima para investigar João Batista, pois em ambiente de agitação política e expectativa messiânica, a figura do Batista deixa os líderes religiosos dos Judeus em pânico. Enviam emissários para interrogá-lo e ele confessou a verdade e não negou: “Eu não sou o Messias”. Mas quem é você? “Eu sou uma voz que clama no deserto”. Merece atenção esta afirmação. Eu sou a “voz”. “Voz” significa relação. Supõe alguém que fala e alguém que ouve. A “voz” não tem rosto, não tem nome, não tem presença física. A atitude simples e discreta com que João se apresenta é muito sugestiva: ele não procura atrair sobre si as atenções, não usa a missão para a sua glória ou promoção pessoal, não busca a satisfação de interesses egoístas; ele é apenas uma “voz” anônima e discreta. O importante é o conteúdo da mensagem que a voz anuncia. João é a “voz” através da qual Deus se manifesta. E esta voz clama: “Endireitai o caminho do Senhor”. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ