30º Domingo do Tempo Comum
“Amar de todo coração” – Mt 22,34-40 – O Evangelho deste domingo, mais uma vez, tem como cenário Jerusalém. Os líderes judaicos continuam seus confrontos com Jesus. Já estão convictos de que a proposta de Jesus não vem de Deus e deve ser rejeitada. Já tomaram sua decisão de denunciar, julgar e condenar Jesus de forma exemplar. Precisam apenas de uma acusação grave, com provas e testemunhas. Então preparam ciladas para surpreender Jesus em algum erro e assim poder acusá-lo e condená-lo em um tribunal.
Estamos acompanhando estes eventos, narrados por Mateus nestes últimos domingos. Depois da armadilha sobre o tributo a César, no evangelho do 29º domingo (cf. Mt 22,15-22), seguido da controvérsia sobre a ressurreição dos mortos, na qual Jesus deixa os saduceus sem palavras (cf. Mt 22,23-33), temos neste domingo a pergunta sobre o “maior mandamento da Lei” (cf. Mt 22,34-40).
Lido fora de seu contexto, pode-se pensar que a pergunta dos fariseus é sincera e que desejam realmente conhecer bem a Lei. Mas olhando o ambiente, podemos perceber claramente que se trata de mais uma cilada dos fariseus que acham que com esta questão vão desmascarar Jesus. A questão do maior mandamento da Lei não era algo pacífico entre os judeus. No tempo de Jesus era assunto de debates intermináveis entre fariseus e doutores da Lei. Estes, para garantir a fiel observância da lei, tinham elencado 613 preceitos, dos quais 365 eram proibições e 248 ações para se pôr em prática. Esta “multiplicação” de preceitos legais gerava já dificuldades de memorização e, mais ainda, de observância. Na impossibilidade do fiel cumprimento de todos estes preceitos, questionava-se se todos teriam a mesma importância, ou se havia alguma prioridade entre elas. Isto gerava intermináveis discussões entre os doutores da lei e os fariseus.
Surge então uma oportunidade de questionar Jesus. Percebe-se que se trata de uma provocação, pois não é que quisessem saber a opinião de Jesus sobre os preceitos prioritários. Seria um jeito de demonstrar que Jesus não conhecia e não sabia interpretar a Lei como eles sabiam; portanto, não mereceria crédito, não seria o messias esperado. Uma armadilha de cunho religioso.
Mais uma vez eles mesmos caem na cilada que armaram. Jesus não entra na questão de “prioridades”, mas vai direto para a “profundidade”. Não se trata de definir qual é o mandamento mais importante, mas encontrar a fonte originária de todos os mandamentos: “o amor a Deus e o amor ao próximo”. Dizer que “nestes dois mandamentos se resumem a Lei e os Profetas” significa dizer que o amor a Deus e o amor ao próximo são o coração de toda a revelação de Deus. A Lei de amar a Deus e amar o próximo já era conhecida no Antigo Testamento, mesmo que os legistas tenham preenchido esta Lei de muitos casuísmos, especialmente a lei do amor ao próximo. Jesus coloca em paralelo estes dois mandamentos e concentra neles toda a revelação de Deus. Amar a Deus e amar o próximo é o eixo gerador de todos os mandamentos. Mais uma vez Jesus faz calar seus adversários. Certamente faz calar também a nós hoje, que sempre arranjamos justificativas para nossos ritualismos ou nossas posturas não alicerçadas no essencial. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ