29º DOMINGO DO TEMPO COMUM

20/10/2023
29º Domingo do Tempo Comum
“Dai a Deus o que é de Deus”- Mt 22,15-21 – O Evangelho deste 29º domingo do Tempo Comum continua tendo como cenário Jerusalém, o mesmo dos domingos anteriores. De um lado estão os dirigentes judeus que, “cristalizados” em suas convicções, não admitem outra possibilidade de salvação senão pela Lei e Tradições. Do outro lado está Jesus, que tudo faz para que os dirigentes religiosos percebam que recusar o Reino significa recusar a salvação. Isto ficou muito explícito nas parábolas que lemos e refletimos nestes últimos domingos: a do filho que disse “sim” e não foi (cf. Mt 21,28-32), a dos vinhateiros maus que mataram o filho (cf. Mt 21,33-46) e a dos convidados para o banquete que rejeitaram o convite (cf. Mt 22,1-14).
Os dirigentes religiosos, tendo compreendido que Jesus, em suas parábolas, se dirigia a eles e denunciava seu modo de ser e de agir, mudam de estratégia. Buscam surpreender Jesus em alguma contradição ou erro e assim denunciá-lo num tribunal. Eles já decidiram o destino final de Jesus; apenas precisam de uma justificativa. A questão que os fariseus, junto com os partidários de Herodes Antipas, põem a Jesus é bem intencional e concreta. Trata-se da obrigação de todo cidadão pagar os tributos ao imperador de Roma, que tiranizava o povo. A pergunta dos dirigentes parte de numa realidade política bem concreta: pagar ou não pagar impostos a este império que se divinizou para mais explorar o povo; é lícito se aliar a esse sistema gerador de escravidão e de injustiça? Saduceus e herodianos eram favoráveis ao pagamento, pois aceitavam e se sujeitavam à dominação. “Não temos outro rei senão César”; assim afirmaram no processo de condenação de Jesus.
Por outro lado, havia movimentos revolucionários populares que se opunham frontalmente a esta sujeição, pois se devia obedecer somente a Javé, o Deus de Israel. Os fariseus, por sua vez, ficavam como que “em cima do muro”. Eram contra o tributo, mas não aceitavam o uso da violência. Temos então uma “armadilha” prepara pelos dirigentes: Se Jesus se pronunciar a favor do pagamento do tributo, será acusado de concordar com o poder romano e de negar a soberania de Javé. Se for contra o pagamento do imposto, será acusado de revolucionário, inimigo da ordem romana… A questão está colocada e seus interlocutores acreditam que vão vencer.
Jesus, por sua vez, desarma a armadilha: pede que mostrem a moeda do imposto e que olhem a imagem esculpida na moeda. Sem maior discussão, simplesmente diz: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (v. 21). As lideranças religiosas caíram em sua própria armadilha, uma vez que conheciam a lei de não se esculpir imagens. Eles carregam consigo a imagem de César. Jesus não nega nem confirma a necessidade do pagamento do imposto, mas certamente concorda com as obrigações cidadãs de contribuir para o bem comum.” Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Dar a César o que pertence a ele, ou seja, o que é necessário para o bem comum.
O importante, porém, é reconhecer a Deus como o único senhor, e não ter outros senhores neste mundo. As moedas romanas têm a imagem de César: que sejam dadas a César. As pessoas não têm a imagem de César esculpidas em si, pois foram criadas à imagem de Deus (cf. Gn 1,26-27: “Deus disse: ‘façamos o homem à nossa imagem, à nossa semelhança’… Deus criou o ser humano à sua imagem e é esta imagem que devemos carregar conosco e dar a Deus o que lhe pertence: toda obra criada e toda vida que respira o hálito divino. Todos pertencemos a Deus e não a César. Jesus não entra no debate político e nem dá a entender que o “dar a César o que é de César” seja uma ordem de não misturar o humano com o divino, ou “política com religião”, como muitos afirmam. Jesus aponta para outra dimensão da vida, outra profundidade da existência. Deus é o Senhor, a humanidade pertence a Deus. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ