25º Domingo do Tempo
“Ide para a minha vinha” – Mt 20,1-16a – A liturgia do 25º Domingo do Tempo Comum nos convida a refletir sobre a lógica de Deus, uma lógica muito diferente da lógica humana. O evangelho nos desafia a renunciar à esta lógica e pensar do jeito de Deus. Já na primeira leitura temos o convite de “voltar para Deus”, um movimento que exige mudança radical no pensar humano e convida a mergulhar na lógica, na perspectiva e nos valores de Deus. É o que está presente no Evangelho deste domingo, um relato que gera polêmicas e até rejeição em muitos cristãos, pois consideram o relato uma injustiça, tal qual os primeiros contratados para o trabalho na vinha daquele “patrão”.
Olhemos o Evangelho mais de perto: Jesus continua a instruir os discípulos sobre a realidade do Reino. Não podemos esquecer que a comunidade de Mateus sofre forte oposição das lideranças religiosas tradicionais, dos que se consideravam os primeiros e os “donos da salvação. Trata-se então de uma “parábola do Reino” e não um relato histórico a ser moralizado.
O cenário da parábola, porém, reflete bem a realidade social e econômica da Palestina dos tempos de Jesus. Na Galileia havia muitos camponeses que, por causa da pressão fiscal ou de anos contínuos de más colheitas, tinham perdido as terras que pertenciam à sua família como herança. Para sobreviver, esses camponeses, sem terra, juntavam-se na praça da cidade e esperavam que os grandes latifundiários os contratassem para trabalhar nos seus campos ou nas suas vinhas. A rotina levava a existir trabalhadores de “mais confiança”, os primeiros a serem contratados diariamente, com pagamento de jornada completa de um denário. Os demais trabalhadores ficavam de sol a sol esperando alguma oportunidade extra.
Temos a parábola de um dono de vinha que, ao romper da manhã, se dirigiu à praça e chamou os de “mais confiança” para trabalhar na sua vinha, ajustando com eles o preço habitual: um denário. O volume de trabalho fez com que ele voltasse no meio da manhã, ao meio-dia, às três da tarde e ao cair da tarde, trazendo mais trabalhadores. O trabalho foi realizado sem problemas até ao final do dia. Ao anoitecer, os trabalhadores foram chamados diante do dono, a fim de receberem o pagamento do trabalho. Todos, desde os últimos até os primeiros, receberam um denário. Podemos nos imaginar em semelhante situação. Sabemos a reação dos primeiros contratados, que se sentem injustiçados. A resposta do dono da vinha também nos causa impacto: ninguém tem nada a reclamar se ele age assim. Está cumprindo a sua palavra.
Diversas são possibilidades de leitura desta parábola. Jesus pode estar respondendo às críticas sobre sua proximidade para com os pecadores e revelando que o amor do Pai se derrama sobre todos os seus filhos, sem hora marcada, desde que aceitem o convite para trabalhar na vinha do Reino. Pode estar denunciado os dirigentes religiosos sobre sua visão de Deus e da salvação. Para os fariseus, Deus era um “patrão” que pagava conforme as ações de cada um. Se alguém cumprisse escrupulosamente a Lei, conquistaria recompensa especial.
Quando Mateus escreveu o Evangelho, em torno dos anos 80-90 dC., a parábola certamente serviu para iluminar a situação concreta da comunidade que estava em crise com a entrada dos pagãos na Igreja. Alguns cristãos, de origem judaica, não conseguiam entender que os pagãos, “vindos mais tarde”, alcançassem a salvação da mesma forma dos que tinham acolhido a proposta do Reino desde a primeira hora. Os cristãos da primeira hora deveriam ter preferência aos demais. A lógica de Deus rompe com a lógica humana. Nosso Deus oferece gratuitamente a salvação a todos os seus filhos, independentemente da sua antiguidade, méritos, qualidades, ou comportamentos. Os participantes da comunidade do Reino são todos convidados a trabalhar na vinha do Senhor, sem considerar recompensa ou méritos. A lógica de Deus é a lógica da gratuidade, da misericórdia, da igualdade, da fraternidade. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ