17º Domingo do Tempo Comum
Reino dos céus é semelhante…” – Mt 13,44-52 – A liturgia deste 17º domingo nos coloca o desafio de perceber nossa real disposição para assumir a proposta do Reino de Deus. Por meio da linguagem das parábolas, Jesus revela aos seus seguidores que o Reino dos céus exige opção radical. Feita esta opção fundamental, tudo o mais fica relativo. O relato deste domingo é a coroação das sete “parábolas do Reino” do Cap 13 de Mateus. Com imagens e comparações simples, Jesus apresenta o Reino de Deus em toda a sua beleza e simplicidade. O relato contém três parábolas que são exclusivas de Mateus: a parábola do tesouro, a da pérola e a da rede e dos peixes.
Para compreendermos melhor a mensagem proposta por Mateus, mais uma vez temos que considerar a realidade da comunidade a quem o Evangelho se destina… Estamos entre os anos 80 a 85 dC, quase 50 anos após a morte de Jesus. O entusiasmo inicial deu lugar à rotina, seguido de uma crise de fé, motivada por tempos difíceis de perseguição e de hostilidade. Os seguidores de Jesus parecem pouco preparados para enfrentar tais dificuldades. É preciso reanimar e gerar maior decisão pela causa do Reino. As três parábolas tem com contexto este propósito de motivar as comunidades a radicalizarem a opção por esta vida do “Reino dos céus”.
O relato deste domingo pode ser dividido em três partes. Na primeira, temos duas parábolas: a parábola do tesouro escondido no campo e a da pérola preciosa (vv. 44-46). Ambas desenvolvem o mesmo tema e apresentam ensinamentos semelhantes. A questão principal abordada nesta primeira parte é a da descoberta do valor e da importância do Reino. Ambas as parábolas afirmam que o Reino proposto por Jesus é um “tesouro” precioso. Quando alguém encontra um “tesouro” como esse, relativiza tudo e opta por esta riqueza preciosa, o tesouro que dá o sentido único de toda a existência, o valor pelo qual se renuncia a tudo o que possui e se paga qualquer preço. Não seriam estas as parábolas que constituem o coração da Igreja, especialmente da Vida Religiosa Consagrada?
Na segunda parte, Mateus apresenta o Reino na imagem de uma rede que, lançada ao mar, apanha diversos tipos de peixes (vv. 47-50). A parábola apresenta um ensinamento semelhante ao do trigo e do joio. A grande provocação é a tomada de consciência de que o Reino não é um grupo onde só há gente escolhida e santa. É uma realidade onde o mal e o bem crescem simultaneamente. Deus não tem pressa de condenar e destruir. Ele não quer a morte do pecador; por isso, dá o tempo necessário e suficiente para o ser humano amadurecer as suas opções e suas escolhas. A referência ao “juízo final” é uma forma de alertar para a importância da opção pelo Reino; não se trata de tribunal com sentenças de condenação ou salvação, mas de motivação para se fazer a opção radical por este tesouro: o reino e prática das propostas de Jesus.
Na terceira parte do Evangelho que nos é proposto, Mateus apresenta um breve diálogo entre Jesus e os discípulos (vv.51-52). É uma espécie de conclusão de todo o capítulo. Mateus sugere que o verdadeiro discípulo de Jesus é aquele que compreende os seus ensinamentos. Na teologia de Mateus, “compreender” significa “prestar atenção” e comprometer-se com o ensinamento proposto. A referência ao “escriba” que “tira do seu tesouro coisas novas e velhas” pode ser uma referência aos judeus, conhecedores profundos do Antigo Testamento (o “velho”), que conseguem perceber as propostas de Jesus (o “novo”). Um desafio ainda atual: formados que fomos em certas tradições religiosas da Igreja, certos modelos de VR, somos convidadas a não eliminar as riquezas do velho tesouro, mas ter a docilidade de perceber o novo que o tesouro noz revela. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ