Domingo da Divina Misericórdia

13/04/2023

As portas fechadas”- Jo 20,19-31 – Domingo da Divina Misericórdia! A liturgia deste domingo é de um encanto especial. Além das leituras que nos mergulham no mistério da Ressurreição de Jesus, mistério este que trouxe a possibilidade de experimentarmos um mundo novo, o brilho da divina misericórdia dá um especial colorido a toda a liturgia. A misericórdia divina está como que velada por trás de “portas fechadas”, pois é o rosto divino que não se consegue expressar.

O texto do livro dos Atos dos Apóstolos descreve a comunidade ideal que brota do coração aberto de Jesus. A segunda leitura é uma ação de graças pela misericórdia divina que, pela Ressurreição de Jesus, nos fez “renascer para uma viva esperança”. O Evangelho é uma catequese especial sobre a vida nova que Jesus nos conquistou. Olhemos o relato mais de perto. O texto deste dia divide-se em duas partes: na primeira (vv. 19-23), temos uma “aparição” de Jesus aos discípulos que estavam numa situação de insegurança e de fragilidade: era ao “anoitecer”, as “portas fechadas”, havia muito “medo”. Um retrato das comunidades de ontem e de hoje. Nesta situação, apareceu Jesus “no meio deles”. Jesus é o centro da comunidade. Para a comunidade fechada, com medo, mergulhada nas trevas de um mundo hostil Jesus, por duas vezes, transmite a “paz” (vv. 19 e 21). É o “shalom” hebraico, que significa harmonia, serenidade, tranquilidade, confiança, vida plena. Depois Jesus revela a sua “identidade”, ou seja, sua “vida e missão”: mostra as mãos e o lado trespassado, tornando, assim, evidente o seu “agir” (mãos) e seu “ser”, a misericórdia (lado aberto); dois símbolos que revelam sua entrega e seu amor. A permanência desses “sinais” após a ressurreição, indica que Jesus será sempre o Messias que ama e do qual brotarão a água e o sangue que constituem e alimentam a comunidade. Em seguida Jesus “soprou” sobre os discípulos, o mesmo sopro da “criação”, quando o homem tornou-se um “ser vivente”. Jesus transmite aos discípulos a vida nova, gerando nova humanidade.

Na segunda parte (vv. 24-29), temos uma catequese sobre a fé. Como é que se chega à fé em Cristo ressuscitado? João responde por meio de um relato catequético: para fazer a experiência da fé em Cristo vivo e ressuscitado, é necessário estar inserido na comunidade de fé, o lugar natural onde se manifesta e irradia o amor de Jesus. Tomé, um personagem que incorpora todos aqueles que vivem fechados em si próprios, está fora da comunidade e não acredita no testemunho de seus irmãos. Uma realidade muito comum ainda em nossos dias. Ao invés de se integrar e participar da mesma experiência comunitária, afirma crer somente após uma demonstração individual, pessoal, vinda a ele diretamente de Deus. Porém, pela misericórdia divina, Tomé acaba fazendo a experiência de Cristo vivo porque, no “dia do Senhor”, estava com a sua comunidade.

É no “domingo”, dia em que a comunidade é convocada a celebrar a Eucaristia, no encontro com o amor fraterno, com o perdão dos irmãos, com a Palavra proclamada, com o pão de Jesus partilhado, mesmo com as “portas do entendimento fechadas”, se faz a experiência do encontro com Jesus ressuscitado. A experiência de Tomé não é exclusiva dele, mas de todos os cristãos de todos os tempos. O individualismo, a autorreferencialidade, o fixar-se em si e nas próprias ideias, impede ou retarda a experiência do encontro com o ressuscitado. Somente Jesus rompe fronteiras de “portas fechadas por medo”.   Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ