5ºDomingo da Quaresma
Servir, ungir, viver – Jo 11,1-45 – Estamos celebrando o 5º domingo da Quaresma. O itinerário litúrgico da Quaresma é um verdadeiro querigma evangelizador. Iniciamos com as “tentações” de Jesus, contemplamos a cena da “transfiguração”, e passamos a ler o Evangelho de João que apresenta Jesus como Messias, recorrendo a linguagem dos “sinais”: da “água”, com a Samaritana (cf. Jo 4,1- 47), da “luz”, com o relato da cura do cego (cf. 9,1-41) e da “vida”, com a ressurreição de Lázaro (cf. Jo 11,1-45). São textos que não têm paralelo nos outros três Evangelhos.
O cenário do texto de hoje é Betânia, uma aldeia próxima do monte das Oliveiras. O autor coloca-nos diante de um triste episódio familiar: a morte do “irmão”. A família de Betânia apresenta algumas características particulares. O nome da aldeia já tem significado teológico. “Betânia” significa “casa da comunidade”. A família é descrita de modo particular: não há qualquer referência a outros membros, para além de Maria, Marta e Lázaro. Não há pai, nem mãe, nem filhos. João insiste que os três são “irmãos”. A palavra “irmão” será a palavra usada por Jesus, após a ressurreição, para definir a comunidade dos discípulos (Jo 20,17). A família de Betânia é nova família do Reino. Três verbos caracterizam estes “irmãos”: Marta “serve”, Maria “unge” e Lázaro “vive” por força da presença de Jesus. A relação entre Jesus e esta “família de irmãos” é de amizade, de conhecimento mútuo, de amor e ternura, respeito e solidariedade. Recebem Jesus em sua casa com muita familiaridade. Um episódio abala a vida desta família: o “irmão” está gravemente doente. As “irmãs” mostram o seu interesse, preocupação e solidariedade para com o “irmão” doente e informam Jesus. Jesus ama Lázaro, mas não o socorre imediatamente. Parece que quer respeitar o ciclo normal da vida, ou seja, deixa Lázaro morrer. Depois decide ir até Betânia e os discípulos tentam dissuadi-lo de ir para a região, pois em Jerusalém há muita oposição à ação messiânica de Jesus.
Ao chegar a Betânia, Jesus encontrou o “amigo” sepultado há já quatro dias. De acordo com a mentalidade judaica, a morte era considerada definitiva a partir do terceiro dia. Quando Jesus chega, Lázaro está, pois, verdadeiramente morto e já “cheira mal”. O diálogo que segue entre Jesus e as duas irmãs é de silenciar mente e coração de cada um/a de nós, para bem ouvir, contemplar e saborear cada palavra, cada gesto, cada sentimento que percorre nas veias. Marta como que reprova Jesus pela sua demora, mas faz a confissão de fé que os sinóticos colocam na boca de Pedro: “Tu és o Messias, o Filho de Deus que havia de vir ao mundo”. Maria está “em casa”, parece desconsolada, mas com a notícia da presença de Jesus, sai apressada. O diálogo com Jesus é de um profundo ato de fé.
A cena da ressurreição de Lázaro começa com Jesus chorando (v. 35). Jesus é um Deus que chora pela morte de um irmão! Diversos outros gestos e palavras de Jesus são de uma profunda boa nova: no Sepulcro, Jesus manda tirar a pedra, pedra que separa o mundo dos vivos do mundo dos mortos. Ergue os olhos ao céu e pronuncia sua oração: “Pai, eu te dou graças, porque me ouvistes”. Dá ordens: “Lázaro, vem para fora”. Depois ordena aos presentes: “Desatai-o… e deixai-o andar”. Resgatar todo o significado destas palavras e destes gestos é caminho a ser percorrido.
Quanta beleza e quanto mistério e ser contemplado!
Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ