2º Domingo de Advento
“Preparai o caminho do Senhor” – Mt 3, 1-12 – A liturgia deste domingo apresenta-nos a figura de João Batista, aquele que nos convoca a preparar o caminho para a chegada do Messias. Tanto sua palavra quanto seu testemunho são um grito profético muito forte e de uma clareza luminosa. A mudança de práticas e de mentalidade que propõe são revolucionárias e de radicalidade sem precedentes.
As três leituras deste domingo mostram a necessidade de “conversão”. Os valores egoístas que cultivamos, a mentalidade que rege nossas vidas, as imagens de Deus que trazemos e que se aproximam mais de um deus ídolo, clamam por mudanças radicais.
Olhemos mais de perto a figura de João Batista no Evangelho. Mateus inicia dizendo simplesmente: Naqueles dias, apareceu João Baptista a pregar no deserto da Judeia. Após relatar a infância de Jesus, o evangelista descreve as ações e a pregação de João Batista. Seria lógico prosseguir com o relato da vida e missão de Jesus, mas Mateus insere a vida e a pregação do Batista, o precursor. Esta inserção, certamente, busca destacar a importância do apelo deste profeta.
João Batista está na tradição dos grandes profetas, e sua pregação é como que a última palavra de toda a profecia do Antigo Testamento. Depois dele, o Reino de Deus, a utopia cultivada ao longo da História, se aproxima.
Nesta apresentação do Batista, há vários aspectos a destacar: a figura, a mensagem, as reações ao anúncio, a comparação entre o batismo de João e o batismo de Jesus.
A “figura” do Batista é uma figura que, por si só, nos questiona e provoca. Ele aparece ligado ao “deserto”, lugar das privações, do despojamento, mas também o lugar tradicional do encontro com Deus. Não aparece ligado ao Templo, lugar tradicional da religião judaica. Usa vestes fora dos padrões, não as roupas finas e sofisticadas dos sacerdotes da capital. Sua alimentação está em profundo contraste com as comidas finas que enchem as mesas da classe dirigente… e tantas de nossas mesas em tempos atuais.
João, com sua “mensagem” e por meio de sua “pessoa”, questiona radicalmente o nosso jeito de pensar e de viver, voltado para as “coisas”, para os ‘bens materiais”, para o “ter”, para a autorreferencialidade.
O que é que João prega? Mateus resume o anúncio de João numa frase: “convertei-vos porque está perto o Reino dos céus” (v. 2). O verbo grego (metanoéo = converter) tem, normalmente, o sentido de “mudar de mentalidade”. Mas, em Mateus, tem o sentido mais aproximado do Antigo Testamento, ou seja, um apelo a voltar ao projeto originário, a um retorno incondicional ao Deus da Aliança. O judaísmo havia se desviado da utopia inicial.
Por que é que esta “conversão” é tão urgente? Porque o “Reino dos céus” está perto. Não é possível acolher “aquele que vem” se o nosso coração estiver tomado pelo egoísmo, pelo orgulho, pela autossuficiência, carregado de preocupações com os bens materiais, instalado na superficialidade dos valores fundamentais. É preciso, portanto, uma mudança nos nossos sentimentos, em nossa forma de pensar e de julgar. Uma mudança de rota em nossos valores, comportamentos, atitudes, palavras. É preciso um despojamento de tudo o que rouba o espaço do “Senhor que vem”.
Advento é esta espera vigilante, dinâmica, de cultivo de novos sentimentos, de revigoramento de nosso Batismo, recebido no “Espírito Santo e no fogo”. “Vem Senhor Jesus”. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ