31º Domingo do Tempo Comum

27/10/2022

 “Hoje a salvação entrou nesta casa” – Lc 19,1-10. Continuamos acompanhando Jesus a caminho de Jerusalém. O episódio deste domingo coloca-nos em Jericó, um oásis situado nas margens do mar Morto, cerca de 34 km de Jerusalém. Jericó, segundo pesquisas arqueológicas, é uma das cidades mais antigas daquela região. No tempo de Jesus, era uma cidade próspera, com grandes e belos jardins, como ricos palácios, construídos por Herodes, o Grande, que fez de Jericó a sua residência de inverno. Era a última etapa dos peregrinos que, da Galileia e regiões próximas, se dirigiam a Jerusalém para celebrar as grandes festas.

Mais uma vez Lucas traz um personagem “fora da Lei”. No último domingo estivemos em contato com um “puro” fariseu e um” impuro” publicano. Neste domingo temos, não um “impuro” qualquer, mas um “chefe dos publicanos”, alguém que o judaísmo oficial considerava um pecador público, um explorador dos pobres, um colaborador dos opressores romanos e, portanto, um excluído da comunidade da salvação.

                Zaqueu era um homem que colaborava com os opressores romanos e que se servia do seu cargo para enriquecer de forma corrupta. Era, portanto, um pecador público, sem chances de perdão, excluído do convívio com as pessoas decentes e sérias. Era considerado amaldiçoado por Deus e desprezado pelos homens. A referência à sua “pequena estatura” pode significar a sua pequenez e insignificância, do ponto de vista moral, não o tamanho físico.

Aparece uma grandeza neste homem: ele quer “ver” Jesus. Há várias motivações para se querer “ver Jesus”. Herodes também queria, mas os objetivos eram outros. A busca de Zaqueu não é uma simples curiosidade, mas indica uma procura intensa, uma vontade firme de encontro com o novo. Mas este “novo”, o “Mestre”, parece inacessível, pois os “puros” e “santos”, a religião oficial, escondiam seu verdadeiro rosto. O subir em um “sicômoro” indica a intensidade da busca, que é mais forte do que o medo do ridículo ou das vaias da multidão.

Como é que o Senhor vai lidar com este excluído que sente um desejo intenso de ver Jesus? Zaqueu quer ver Jesus, mas Jesus viu primeiro Zaqueu, que espreitava, no meio dos ramos. Jesus começa por provocar o encontro e sugere a Zaqueu que está interessado em entrar em comunhão com ele: “Quando Jesus chegou ao local, olhou para cima e disse-lhe: ‘Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa”. Entrar na casa, na cultura judaica, é de profundo significado.Temos aqui um quadro “escandaloso”. Jesus, rodeado pelos “puros” que escutam atentamente a sua Palavra, ficam perplexos no meio da rua, pois Jesus estabelece contato com um marginal e, pior ainda, diz que “deve ficar” na sua casa.”Ao verem isto, todos murmuravam, dizendo: “foi hospedar-se em casa de um pecador”. Esta é a atitude comum de quem se considera “justo” e despreza os outros, de quem está instalado nas suas certezas, de quem está convencido de que a lógica de Deus é uma lógica de castigo, de marginalização, de exclusão. Catequese semelhante vimos no domingo anterior, na parábola do fariseu e do publicano. Mais uma vez Jesus monstra que a lógica de Deus é diferente da lógica humana e que a oferta de salvação que Deus faz não exclui nem marginaliza ninguém.

Como é que tudo termina? Termina com um banquete que simboliza o “banquete do Reino”. Acolhendo o dom de Deus e convertendo-se ao amor, Zaqueu anuncia que fará a repartição dos bens  aos pobres e irá a restituir o quádruplo de tudo o que roubou. Sua generosidade vai muito além daquilo que a lei judaica exigia (cf. Ex 22,3.6; Lev 5,21-24; Nm 5,6-7). Um dado importante a se considerar:  Zaqueu  se tornou  generoso após o encontro com Jesus.  Foi o amor de Deus que provocou sua conversão. Jesus não esperou a conversão de Zaqueu para derramar sobre ele seu amor. Amou-o quando ainda era pecador. É a experiência do amor de Deus que transforma nossas vidas.  (Ir. Zenilda L. Petry)