28° Domingo do Tempo Comum
A gratidão é a memória do coração” – Lc 17,11-19 – A liturgia deste domingo nos mostra como Deus tem um projeto de salvação. Acolher com amor e gratidão é o caminho da salvação. A primeira leitura já nos situa no tema da salvação e da “memória do coração” de quem se vê tomado pelo amor de Deus. O Evangelho apresenta-nos um grupo de “leprosos” (hoje hansenianos) que se encontram com Jesus e que, através de Jesus, descobrem a misericórdia e o amor de Deus.
Mais uma vez Lucas apresenta um episódio situado no “caminho de Jerusalém”. No “caminho” aparecem dez leprosos. O leproso era, no tempo de Jesus, o marginalizado por excelência. Além de causar naturalmente repugnância pela sua aparência e de infundir medo de contágio, o leproso é um impuro ritual (cf. Lv 13-14), um castigado de Deus pelos seus pecados. Não podia nem entrar na cidade de Jerusalém, pois sua simples presença tornava a cidade santa impura. Em caso de cura, devia apresentar-se diante de um sacerdote, a fim de que ele comprovasse a cura e lhe permitisse a reintegração na vida normal (cf. Lev 14). Podia, então, voltar a participar nas celebrações do culto.
Eram dez leprosos: nove judeus e um samaritano. Como já sabemos, os samaritanos eram desprezados pelos judeus de Jerusalém. Na época de Jesus, a relação entre as duas comunidades era marcada por uma grande hostilidade.
A narrativa dos dez leprosos é exclusiva de Lucas. Trata-se de um evangelho cujo objetivo fundamental é apresentar Jesus como o Deus que Se encarnou para revelar a misericórdia para com os oprimidos e marginalizados. O número dez tem, certamente, um significado simbólico: significa “totalidade”. Por exemplo, o judaísmo considerava necessário ter 10 homens para se poder realizar a oração comunitária na sinagoga. Era a “totalidade” da comunidade.
A presença de um samaritano no grupo indica que a salvação oferecida por Deus, em Jesus, não se destina apenas ao “povo eleito”, mas a todos, especialmente aos que o judaísmo oficial considerava excluídos da salvação.
O que mais se acentua nesta narrativa, não e a cura dos dez, mas o fato de que somente o samaritano tenha votado para agradecer. Certamente há uma crítica, ainda que velada, à autossuficiência dos judeus que, por se sentirem “povo eleito”, se achavam no direito de serem atendidos por Deus, sem necessidade de gratidão. Quem tem um coração despojado, humilde, reconhece que tudo é puro dom. A gratidão é a memória do coração.
A gratidão não é uma exigência de quem concede o dom, mas uma necessidade para quem recebe. A falta de gratidão é característica de pessoas narcísicas, autossuficientes, egoístas. Aprender a agradecer é caminho de cura para todas as “lepras” das pessoas centradas no seu EU.
O Evangelho nos mostra que quem recebe a salvação deve reconhecer o dom de Deus e ficar agradecido. Ė o grande ensinamento de Jesus. Ele também mostra que, muitas vezes, são os hereges, os marginais, os desprezados, os considerados fora da salvação, que estão mais atentos aos dons de Deus e que mais sabem agradecer. Hoje, mais do quem nunca, os pobres e os excluídos são muito mais agradecidos do que os que tudo possuem, inclusive os membros de nossas Igrejas e de nossas Congregações Religiosas. (Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ)