25º Domingo do tempo Comum

15/09/2022

“Ninguém pode servir a dois senhores”- Lc 16,1-13 – Prosseguimos acompanhando Jesus no “caminho para Jerusalém”. Realmente não se trata de um caminho geográfico, mas de um itinerário teológico completo. O caminho para o Reino de Deus tem todas as indicações necessárias neste “caminho para Jerusalém”, traçado pelo evangelista Lucas. Não há aspecto da vida cristã que não receba atenção e orientação. Isto tudo ocorre enquanto “caminha com seus discípulos”. Poder-se-ia afirmar que este “caminho para Jerusalém” se dá em “sinodalidade”, ou seja, “caminham juntos”, com o coração perpassado pela “comunhão, participação e missão”

Desta vez Jesus não Se dirige aos fariseus, mas aos discípulos e, através deles, aos fieis de todos os tempos… Com uma história que apresenta contornos de caso real, tirado da vida, Jesus instrui os discípulos acerca do uso dos bens materiais em nossa vida. A parábola narrada gera impacto, pois parece que Jesus acaba elogiando a corrupção, coisa tão atual em nossa sociedade, tão criticada em discursos políticos, mas tão presente em nossas vidas cotidianas.

Na primeira leitura, o profeta Amós denuncia os comerciantes sem escrúpulos, preocupados em ampliar sempre mais as suas riquezas, que apenas pensam em explorar a miséria e o sofrimento dos pobres.

O Evangelho apresenta a parábola de um administrador “astuto. No contexto do Evangelho de Lucas, fica até difícil compreender o Evangelho deste domingo. Em Lc 14,33 Jesus afirma que, para ser discípulo, precisa renunciar a tudo que possui. No Evangelho do próximo domingo veremos que o rico parece não ter salvação. Neste domingo Jesus elogia o administrador que engana seu patrão, talvez ate roubando de seus bens. Como compreender tudo isto?

Na primeira parte do nosso texto (vv. 1-9) temos a parábola de um homem acusado de administrar, de forma possivelmente desonesta, os bens do patrão. Chamado a prestar contas e sendo despedido, tem a preocupação de assegurar o futuro. Chama os devedores do patrão e reduz-lhes as quantias de dívidas. Dessa forma os beneficiados não esquecerão a sua generosidade e, mais tarde, vão ser gratos e acolhe-lo em sua casa. Como justificar o modo de proceder deste administrador, que garante o seu futuro às custas dos bens do seu senhor? Como compreender o silêncio do senhor que não reclama o prejuízo recebido? Como Jesus pode dar como exemplo aos discípulos um tal administrador?

Segundo estudiosos, estas dificuldades desaparecem se tomarmos em conta as leis e costumes da Palestina nos tempos de Jesus. Os proprietários da época tinham administradores. O administrador de uma propriedade agia em nome e em lugar do seu senhor. Era como se fosse o próprio dono. Não recebia remuneração por esta atividade e seus gastos eram colocados nas contas dos devedores do senhor. Era a forma como circulava a mercadoria.

Este forma de mercado deve estar na base de nossa história… Das cem talhas de azeite registradas no recibo (v. 6), só umas cinquenta eram dívidas. As outras cinquenta eram o reembolso do administrador, que renuncia ao lucro a que tinha direito, a fim de assegurar a gratidão dos devedores e garantir o seu futuro. Este administrador, que era desonesto (v 8), que até levou o patrão a despedi-lo, Jesus aponta como exemplo, não pela desonestidade, mas pela sua atitude e sabedoria em tratar o dinheiro e o lucro como coisas relativas, dando mais importância à amizade e à gratidão, valores do Reino de Deus. Este é o grande convite de Jesus. E chave de ouro de todo este discurso esta nesta solene afirmação: “Ninguém pode servir a dois senhores”.

Todo este discurso não significa que o dinheiro seja uma coisa desprezível e imoral, do qual devamos fugir a todo o custo. O dinheiro é algo imprescindível para vivermos neste mundo e para termos uma vida com qualidade e dignidade… No entanto, Jesus recomenda que o dinheiro não se torne uma obsessão, uma escravidão, um absoluto. O dinheiro não nos concede os valores do Reino e  da vida plena. (Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ)