13º Domingo do Tempo Comum
Seguia a caminho de Jerusalém – Lc 9,51-62 – Estamos no 13º domingo do Tempo Comum e o Evangelho deste dia oferece luzes muito apropriadas para nossos dias. Trata-se do inicio da segunda parte do Evangelho de Lucas (cf Lc 9,51- 19,27). Jesus se põe a caminhar “decididamente” para Jerusalém” (v.51). Trata-se de uma caminhada teológica e não geográfica. Como nos demais evangelhos, a geografia está a serviço da teologia. Lucas como que vai tratando do itinerário espiritual, teológico de Jesus para revelar a realidade e os valores do “Reinado de Deus”. Todo o percurso tem a cruz como horizonte. Lucas apresenta as “exigências” do “caminho”. Este itinerário de Jesus será o mesmo dos discípulos de ontem e de hoje.
Do ponto de vista literário, o texto apresenta, nitidamente, duas partes: a) Lc 9, 51-56; b) Lc 9, 57-62. O cenário da primeira parte é o da hostilidade entre judeus e samaritanos. Trata-se de um dado histórico, bem acentuado pelos evangelistas (cf Jo 4,9; Lc 10,33ss). A convivência entre os dois grupos era uma grande dificuldade, a tal ponto que os peregrinos que iam a Jerusalém para as grandes festas de Israel procuravam evitar a passagem pela Samaria a fim de não ocorrer “maus encontros”. Seguiam pela estrada da “costa marítima” ou pelo caminho ”outro lado do Jordão”.
Jesus decide passar pela Samaria e os discípulos buscam um meio para serem bem acolhidos. Diante da hostilidade manifestada pelos samaritanos, os discípulos apelam para o uso do poder de forma violenta: “queres que mandemos descer fogo do céu que os destrua?”
Jesus reage e mostra que o seu “caminho” não passa nem passará nunca pela imposição da força, da violência, da prepotência. Isto é algo que os discípulos nunca deveriam esquecer. Infelizmente em nosso Brasil, uma nação que se confessa de maioria cristã, incentiva-se o ódio, legaliza-se a posse de armas e se tem um presidente que afirma que Jesus compraria uma pistola, caso já existisse no seu tempo. Tais blasfêmias bradam aos céus.
Na segunda parte (vv. 57-62), temos o diálogo entre Jesus e três vocacionados que se sentem atraídos ao seguimento de Jesus. Mais uma vez vemos Jesus reagindo e afirmando que não basta a atração; há condições sem as quais não há seguimento. Ao primeiro que dissera: “seguir-Te-ei para onde quer que fores”, Jesus mostra que para ser discípulo é preciso despojar-se totalmente das preocupações materiais: o Reino é infinitamente mais importante do que o bem-estar material. Ao segundo, que quer “primeiro sepultar o pai” Jesus afirma que o verdadeiro discípulo relativiza este sagrado dever do judaísmo, uma vez que o Reino tem prioridade absoluta. Ao terceiro vocacionado Jesus sugere que o discípulo desapega-se de tudo, até da própria família, por causa do reino de Deus.
Tais exigências ou condições não são normas a serem obedecidas, pois cuidar dos pais é dever (cf. Mt 15,3-9). O que Jesus nos ensina é que o discípulo é convidado a renunciar a tudo aquilo que impede de “seguir o caminho para Jerusalém”. A compreensão deste itinerário de Jesus exige a dedicação de uma vida inteira.
Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ