5º Domingo da Páscoa

14/05/2022

A glória na cruz – Jo 13,31-33a.34-35 – Estamos no 5º domingo da Páscoa e o evangelho, ainda que breve, é marcado por temas fundamentais que perpassam o 4º Evangelho: a “glorificação” de Jesus e o “mandamento novo”.

O cenário da narrativa continua sendo o da ceia, na qual Jesus se despede dos seus e lhes deixa as últimas recomendações. Ele acabou de lavar os pés dos discípulos (cf. Jo 13,1-20) e de anunciar a traição de Judas, um dos “Doze”(cf. Jo 13,21-30). Em seguida dirige aos discípulos palavras de despedida. Essas suas palavras soam como “testamento final” e constituem a síntese de toda a sua vida. Trata-se de um momento muito solene, mas também muito tenso, pois o fim tragico se aproxima.

Jesus inicia anunciando a “hora da sua glorificação”. Para a lógica humana, tal anúncio gera estranheza, pois a “glorificação” não cabe em tal situação. Jesus acabara de lavar os pés “durante” a ceia, (e não antes, como seria de esperar); Pedro se opõe ao gesto de Jesus e revela que ainda não entendeu o projeto de servir; Jesus anuncia a traição de Judas. Nesse cenário Jesus anuncia sua “glorificação” (e não seu “fracasso final”, como se podia prever) e faz um resumo de todos os mandamentos da tradição Judaica (613 leis no tempo de Jesus): “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros”. Hoje já nos acostumamos a ouvir este ‘mandamento do amor’, e sob muitas formas: cantado, pregado em homilias e catequeses, por vezes até romantizado. No contexto de então, este “novo mandamento” deve ter gerado perplexidade e, certamente, muito mal-estar. Para os mestres da lei, discípulos eram os estudiosos da Lei.Para Jesus, discípulo é quem vive o amor. Trata-se de uma ruptura radical dos paradigmas que regiam a sociedade de então, alicerçada na tradição, na Lei, numa rígida hierarquização das pessoas e dos valores. Mesmo conhecendo o testamento de Jesus, sabemos que este mandamento continua “novo”, pois sua prática ainda está longe de ser concretizada.

Olhemos mais de perto o outro tema deste Evangelho: a “glorificação”.”Agora foi glorificado o Filho do homem”. O tema da glorificação de Jesus perpassa todo o 4º Evangelho. Glorificar é a missão do Filho. Vejamos: Ao realizar seu primeiro sinal nas bodas de Caná, Jesus “começa a manifestar a sua glória” (2,11). Em Jo 7,39, o dom do Espírito Santo só será concedido após a glorificação de Jesus. Em 8,54, Jesus afirma que Ele não se glorifica a si mesmo, mas é o Pai que o glorifica. Em 11,4, Jesus afirma que a doença de Lázaro se destina à glória de Deus e para a glorificação do Filho do Homem. Em 12,16, a glorificação de Jesus será o meio de ajudar os discípulos a entenderem o seu ensinamento. Em Jo 12,23, a hora da glorificação de Jesus é a hora da cruz.

Então, na ceia, no seu testamento final, Jesus confirma: “Agora foi glorificado o Filho do homem e Deus glorificado n’Ele”. A glória de Jesus consiste em ser crucificado, pendurado no madeiro, aniquilado, ser  um “maldito de Deus” (cf Dt 21,23; Gl 3,13). Diferente dos outros Evangelhos, João faz questão de mostrar que a glória de Deus está em Jesus enfrentar a morte por causa da vida, da justiça, da verdade, do amor. Uma “glorificação” ao reverso. A glória de Jesus desafia a nossa busca de “glorificação”, que nada mais é senão “vangloria” do eu.  Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ