2º Domingo Páscoa
“Meu Senhor e meu Deus”– Jo 20,19-31- Estamos vivendo este novo tempo litúrgico da experiência do encontro com Jesus Ressuscitado. No segundo domingo da Páscoa o Evangelho mais uma vez inicia dizendo ser o “primeiro dia da semana”, fazendo assim referência a este tempo novo, o tempo da nova criação. Os discípulos, a comunidade, gerada pela boa nova de Jesus, está reunida no cenáculo, em Jerusalém, com “as portas da casa fechadas…, com medo dos judeus”. Os seguidores de Jesus se sentem desamparados e inseguros, vivendo em ambiente hostil. A visão do que ocorreu no Calvário continua muito viva. A dor da morte não foi assimilada. Os discípulos ainda não fizeram a experiência do Cristo ressuscitado. Falta-lhes a coragem de prosseguir no caminho de Jesus, pois tudo indica que a morte venceu.
O texto que a Liturgia nos indica é de extrema riqueza simbólica. Do ponto de vista literário, divide-se em duas partes bem distintas. Na primeira (cf. Jo 20,19-23), descreve-se uma “aparição” de Jesus aos discípulos, que estão confusos e sem horizontes: é no “anoitecer”, “as portas estão fechadas”, o “medo” domina-os. Então Jesus se coloca no “no centro”. Uma informação de grande força simbólica. Quando Jesus está no centro, tudo fica diferente. Jesus inicia desejando-lhes a paz, o “shalom”, ou seja, a plenitude de vida, uma vida de harmonia, serenidade, tranquilidade, confiança.
Em seguida Jesus “soprou sobre eles”, ou seja, repetiu o hálito vital da criação, quando, pelo sopro divino, o homem se tornou um ser vivente. Jesus transmite aos discípulos a vida nova que fará deles homens novos, discípulos missionários. Eles agora possuem o Espírito, a vida de Deus, para dar-se generosamente aos outros, no mesmo espírito de Jesus.
Na segunda parte (cf. Jo 20,24-29), temos a figura de Tomé. A narrativa não deve ser lida como uma reportagem jornalística de um fato ocorrido. Trata-se de uma catequese exemplar para indicar como é que se chega à fé em Cristo ressuscitado. O lugar natural desta experiência é a comunidade dos fiéis. Alguém ausente da comunidade, alguém que pretende obter uma demonstração particular de Deus para crer em Jesus, não chega à fé na ressurreição.
Tomé representa todos aqueles que vivem fechados em si próprios e não consideram o testemunho da comunidade. Em lugar de se integrar e participar da mesma experiência, se isolam e se consideram detentoras da verdade.
A figura de Tomé serve para prosseguir com a teologia da ressurreição. Em seu retorno à comunidade acaba por fazer a experiência de Cristo vivo. Qual a mensagem que está por detrás das palavras? É no “dia do Senhor”, dia em que a comunidade se reúne para celebrar a Eucaristia. É no encontro com a comunidade, na experiência do amor fraterno, com o perdão dos irmãos, com a Palavra proclamada, com o pão partilhado, que se faz a experiência de Jesus ressuscitado. O evento da Ressurreição de Jesus é o grande mistério de nossa fé. Uma experiência que a simples palavra humana não consegue narrar. Isto transparece claramente nos relatos da ressurreição, onde cada evangelista narra de forma própria e diferenciada. As palavras não alcançam comunicar a experiência do encontro com o ressuscitado. Só alcança exclamar: “Meu Senhor e meu Deus”!