Domingo de Páscoa 2022

“No primeiro dia da semana” – Jo 20,1-9 – Páscoa do Senhor, o renascer das cinzas! A Ressurreição de Jesus, após sua itinerância pela causa do reino e sua morte de cruz, constitui um verdadeiro “renascer das cinzas”. Como acompanhamos nas leituras do Evangelho de João, na última semana da quaresma, Jesus não só morreu na cruz como um malfeitor, mas ao longo de toda a sua vida sofreu oposição acirrada por parte das elites do judaísmo. A cruz foi o “coroamento” de uma vida “crucificada”, torturada, perseguida, incompreendida, insultada. A morte de cruz foi a consequência lógica de se sua vida e de sua missão. Mas como sua opção foi de fidelidade ao Pai na implantação do Reino, a morte, mesmo sendo um “assassinato”, foi a vitória plena da vida sobre a morte.

O Evangelho deste dia da Páscoa (Jo 20,1-9) começa com uma indicação aparentemente cronológica: “no primeiro dia da semana”, mas que deve ser entendida em chave teológica, como praticamente todo o Evangelho de João. Afirmar que foi “no primeiro dia da semana” significa dizer que começou uma nova criação, um novo tempo, um mundo novo. Os personagens principais do relato são representativos desta nova criação e da nova comunidade.

“Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro e viu a pedra retirada do sepulcro”. Maria Madalena representa a nova comunidade que nasceu da ação criadora e vivificadora do Messias. Essa nova comunidade, que viu Jesus crucificado, acredita, inicialmente, que a morte triunfou e procura Jesus no sepulcro. É uma comunidade desorientada, desamparada, está no “escuro”, que ainda não conseguiu descobrir que a morte não venceu, não viu ainda o “nascer do sol”. Mas diante do sepulcro vazio, uma brota uma novidade: o verdadeiro discípulo descobre que Jesus está vivo.

 Para ilustrar esta novidade, são apresentadas duas figuras de discípulos que correm ao túmulo: Simão Pedro e um “outro discípulo”, que parece ser o “discípulo amado”, diversas vezes citado na segunda parte do Quarto Evangelho. O evangelista coloca estas duas figuras lado a lado em várias circunstâncias.

Provavelmente, o evangelista descreve, através destas figuras, o impacto produzido nos discípulos pela morte de Jesus e as diferentes disposições existentes entre os membros das comunidades cristãs de ontem e de hoje.

Em geral, Pedro representa, nos evangelhos, o “discípulo obstinado”, para quem a morte significa um fracasso e que se recusa a aceitar que a vida nova passe pela humilhação da cruz.

Ao contrário, o “outro discípulo” é o “discípulo amado”, que está sempre próximo de Jesus, que faz a experiência do amor de Jesus. Ele corre ao seu encontro de forma mais decidida e “percebe” que a morte não pôs fim à vida. Esse “outro discípulo” é a imagem do discípulo ideal, que, como Maria Madalena,  está em sintonia com Jesus, que corre ao seu encontro, que compreende os sinais e que, junto com Maria Madalena, constitui o “casal primordial” deste “primeiro dia da semana”, desta ‘nova criação’.  O mistério da Páscoa foge à qualquer lógica humana. É para ser contemplado e celebrado…. Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ