1º Domingo da Quaresma
“Não tentarás o Senhor teu Deus”- Lc 4,1-13 – A quaresma é tempo propicio para repensar as nossas opções de vida e de tomar consciência das “tentações” que buscam nos desviar do verdadeiro caminho para Deus. Em sua mensagem para o período quaresmal, o Papa Francisco assim escreve: “A Quaresma é um tempo favorável de renovação pessoal e comunitária que nos conduz à Páscoa de Jesus Cristo morto e ressuscitado. Aproveitemos o caminho quaresmal de 2022 para refletir sobre a exortação de São Paulo aos Gálatas: ‘Não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo (kairós), pratiquemos o bem para com todos’ (Gl 6, 9-10a).
O Evangelho deste domingo tem como cenário inicial o Rio Jordão, nas suas margens. Jesus foi batizado por João Batista e recebeu o Espírito para a missão (cf. Lc 3,21-22). A seguir, foi para o deserto, conduzido pelo Espírito Santo. No deserto, na solidão, na fraqueza, houve o confronto entre o Espírito divino e o espírito diabólico. O relato não é uma reportagem histórica, feita por um jornalista que presenciou os fatos. Trata-se de um ensino catequético, que visa mostrar que Jesus, como nós, sentiu a tentação de deixar Deus de lado e seguir um caminho humano de êxitos, de aplausos, de poder e de riqueza.
O relato é construído em forma de diálogo, em que, tanto o diabo como Jesus, citam a Escritura, buscando assim fundamentar suas opiniões.
A primeira “intervenção” sugere que Jesus poderia escolher um caminho de facilidade e de riqueza, utilizando a sua divindade para resolver qualquer necessidade material… Em resposta, Jesus cita Dt 8,3: “nem só de pão vive o homem”! O seu alimento, a sua opção é a Palavra do Pai.
Na segunda provocação, o diabo insiste que Jesus poderia ter escolhido um caminho de poder, de domínio, de prepotência, ao jeito dos grandes da terra. Mais uma vez Jesus cita o Deuteronômio (6,13), confessando que só Deus é “absoluto” e só a Ele se deve adorar.
A terceira “intervenção” sugere que Jesus poderia ter construído um caminho de êxito fácil, mostrando o seu poder através de gestos espectaculares, sendo admirado e aclamado pelas multidões, como um super-herói. A reação de Jesus é radical. “Não tentarás o Senhor teu Deus” (Dt 6,16), ou seja, não utilizar os dons ou a bondade de Deus para promoção pessoal.
Jesus, bem como cada um de nós, têm diante de si dois caminhos: a proposta do diabo, de seguir o caminho do triunfo humano, ou o caminho da obediência ao Pai e do serviço doado até a morte. A liberdade de escolha nos coloca diante da tentação de optar pelo humanamente mais atraente
Consideremos que, dentro de cada pessoa, existe o impulso de dominar, de ter autoridade, de se prevalecer sobre os outros. É um “caminho diabólico”, que nem sempre se tem a necessária consciência disso. A opção por tal caminho faz com que os pobres, os fracos, os humildes sejam vítimas da prepotência, do autoritarismo, da intolerância humanas. As relações ficam totalmente feridas. Um tal caminho não tem nada a ver com o serviço simples e humilde que Jesus propôs como opção de vida. O atual momento histórico é uma clara demonstração do que significa optar pelo caminho diabólico, que busca tentar o próprio Deus. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ