8º Domingo do Tempo Comum
O verdadeiro mestre – Lc 6, 39-45 – Estamos no 8º Domingo do Tempo Comum. Continuamos no ambiente do “discurso da planície”, do Evangelho de Lucas, onde Jesus apresenta as dimensões fundamentais da fé e da prática cristãs.
O texto começa com um provérbio de grande sabedoria: “poderá um cego guiar outro cego”? Merece nossa atenção o contexto literário deste provérbio que é, certamente, chave de leitura do Evangelho deste dia. O dito é citado por Mateus e por Lucas, mas os contextos e destinatários são diferentes. Mateus faz uso do provérbio em contexto de crítica aos fariseus, os pretensos “mestres da Lei” (cf Mt 15,14; 23,16.19), enquanto em Lucas, trata-se de uma advertência contra ‘mestres’ presentes na comunidade cristã, considerados “falsos mestres”. Isto, certamente, nos leva a uma outra leitura de todo o texto do Evangelho deste dia. Cego não serve para guiar outro cego, ou seja, quem não se fez discípulo de Jesus não pode dar-se ares de mestre. Lucas vai insistir que o mestre, o líder da comunidade, será sempre um discípulo de Jesus, o único e verdadeiro mestre. Quem não se fez discípulo nunca será mestre. Quando alguém considera o seu próprio saber como verdade única, não faz discernimento comunitário, não escuta ou não segue as propostas de Jesus, desorienta os irmãos. Assim, todos os ditos reunidos neste discurso visam ajudar a comunidade a ter o discernimento necessário para não se deixar desviar do verdadeiro caminho.
Nesta mesma direção está o dito à respeito do julgamento dos irmãos (vv 41-42). Há em todos os ambientes pessoas que se acham “iluminadas”, especialmente “inspiradas”, donas da verdade, que acham que nunca se enganam e raramente têm dúvidas. São muito exigentes para com os outros, mas incapazes de aplicar a si próprios os critérios de exigência que aplicam aos outros. São seguras de si, com atitudes de orgulho e de prepotência. Não exercitam a auto-critica. Acham-se donas da verdade. Jesus é muito duro com tais pessoas. São hipócritas! Quem não está numa permanente atitude de conversão e de transformação de si próprio, não tem qualquer autoridade para criticar os irmãos. E quando se está neste processo, não faz criticas aos demais, pois sabe, por experiência, o esforço necessário para manter o coração no bem.
Em continuidade está o “dar frutos”. Seguir a proposta de Jesus é dar bons frutos de união, de fraternidade, de partilha, de respeito, amor e reconciliação. Pôr-se como mestre, mas produzir frutos de egoísmo, desavenças, autossuficiência, amor próprio, é ser “cego que guia outro cego”. O único e verdadeiro mestre é Jesus e nós somos “discípulos”, ou seja, seguidores e aprendizes do Mestre Jesus. Muitas lideranças da Igreja e da Vida Religiosa Consagrada, necessitamos bem refletir este Evangelho. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ