4º Domingo do Advento
“O menino exultou de alegria no meu seio” – Lc 1,39-47 – No 4º domingo do Advento a Liturgia já nos coloca em clima de Natal. A proximidade da salvação faz o menino exultar de alegria ainda no seio de sua mãe.
O texto do Evangelho deste domingo faz parte do chamado “Evangelho da Infância”. Os estudiosos afirmam que se trata de um gênero literário especial, que não pretende ser um relato fiel dos acontecimentos. É uma catequese que busca proclamar que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, o Deus conosco. Usa o gênero literário de narração, buscando figuras do AT que correspondem a fatos e pessoas do NT. Esta mistura de figuras está presente no relato deste domingo. Mais do que uma informação “jornalística” sobre fatos concretos, trata-se de uma revelação sobre Jesus, feita a partir de um conjunto de referências tiradas da mensagem e das promessas do Antigo Testamento.
A primeira referência é a indicação de que o menino “saltou de alegria no seio da mãe”, quando ouviu a saudação de Maria. Trata-se, evidentemente, de uma indicação teológica própria de Lucas. Jesus é o Deus que vem ao encontro da humanidade e que tem uma mensagem de salvação/libertação e vai concretizar as promessas feitas por Deus aos antepassados. Assim a presença de Jesus provoca a alegria, a exultação de todos aqueles que esperam a realização destas promessas de Deus, de um mundo de justiça, de amor, de paz e de felicidade. Isso provoca um estremecimento incontrolável de alegria por parte de todos os que anseiam pela concretização das promessas de Deus.
Temos, depois, a resposta de Isabel à saudação de Maria: “Bendita és tu entre as mulheres”. Trata-se de palavras que aparecem no “cântico de Débora” (cf. Jz 5,24) para celebrar Jael, a mulher que, apesar da sua fragilidade, foi o instrumento de Deus para libertar o Povo das mãos de Sísera, o opressor. Maria é, assim, apresentada como frágil instrumento de Deus para concretizar a salvação/libertação da humanidade.
Finalmente, temos a resposta de Maria: “a minha alma enaltece o Senhor…”. O cântico retoma um salmo de ação de graças (cf. Sl 34,4), destinado a dar graças a Iahweh porque protege os humildes e os salva, apesar da prepotência dos opressores.
Nestes tempos de tantas contradições, de lutas por poder politico, econômico, religioso, a figura destas duas frágeis mulheres (uma estéril e velha, outra jovem e virgem), fala por si. A salvação do mundo vem através da fragilidade, de quem diz “sim” a Deus, de quem nada pretende para si, senão ser “serva do Senhor”.
O “estremecimento” de alegria de João Batista no seio de Isabel é sinal de que a humanidade espera, com ânsia, a chegada da verdadeira salvação. Será que os cristãos hoje, a VR, todos e todas as precursoras do Messias, fazemos experiência do “estremecimento” de alegria com a chegada do Salvador? Ou a falta de sensibilidade já não gera mais “estremecimentos”, nem de alegria e menos ainda de tristeza frente à dor da humanidade. Que a festa do natal nos traga a sensibilidade humana, capaz de estremecer diante do menino na manjedoura, de tremer diante dos “sem lugar em hospedarias”, de celebrar com anjos nos campos dos pastores.
Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ