34º Domingo do Tempo Comum
“O meu Reino não é deste mundo” – Jo 18,33b-37 – No 34º Domingo do Tempo Comum, celebramos Solenidade de Jesus Cristo Rei e Senhor do Universo. Trata-se do último domingo do Tempo Comum, quando então iniciamos o Advento e um novo Ano Litúrgico.
O cenário do evangelho é o do processo de Jesus diante de Pilatos, governador romano da Judeia. No desenrolar do relato da paixão, já havia ocorrido o confronto de Jesus com os líderes judaicos, particularmente com Anás, ex sumo-sacerdote, mas que continuava com muita influência. Foi ele, provavelmente, quem liderou o processo contra Jesus (cf. Jo 18,12-14.19-24).
Num quadro dramático, o Evangelho de João apresenta Jesus assumindo sua condição de Rei diante de Pilatos, uma realeza que afronta os esquemas de poder, de ambição, de autoridade, de violência dos reis “deste mundo”
O interrogatório começa com uma pergunta direta feita por Pilatos: “Tu és o Rei dos judeus?” (v. 33b): A pergunta revela qual era a linha de acusação contra Jesus. Atribula-se a Ele a pretensão de ser rei dos Judeus, de ser o messias esperado, de querer restaurar o reino ideal de David e libertar Israel dos opressores. Este foco de acusações via Jesus como um agitador político, empenhado em mudar o mundo pela força das armas e pela autoridade dos exércitos. As lideranças judaicas, mesmo não tendo “provas”, tinham “convicções” de que Jesus teria que ser condenado pelo que propunha como caminho para a humanidade. Era portador de uma “verdade” inaceitável para os donos do poder. Por outro lado, os seus discípulos o abandonaram, não foram defensores do rei a quem seguiram. Jesus está sozinho e sendo interrogado por pessoas que desconheciam absolutamente o significado de sua vida e missão. Um interrogatório sem ponto convergente. Apesar desta situação, Jesus assume ser Rei e indica, claramente, a abrangência de seu reinado: “O meu reino não e deste mundo” (v. 36), o meu reino não se situa no “vosso mundo”, que é apoiado na força das armas, no domínio, na prepotência, na ambição, opressão, injustiça e sofrimento.
Jesus assume ser Rei, mesmo sendo prisioneiro, indefeso, traído pelos amigos, ridicularizado pelos líderes judaicos, abandonado pelo povo. Sua realeza, porém, é de outra natureza, centrada na “verdade”, segundo a ordem de Deus: “sou Rei. Para isso nasci e vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz “.
A declaração de Jesus causa estranheza a Pilatos, que não consegue entender que um rei renuncie ao poder e à força, e busque reinar no amor e na doação da própria vida. Pilatos como que pensa em voz alta, ou expressa uma certa ironia: “Então, Tu és Rei” (v 37a), Jesus confirma a sua realeza e define o sentido e o conteúdo do seu reinado. “vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade”.
A “verdade” é a realidade de Deus. Pilatos não reconhece a verdade. Essa “verdade” manifesta-se nos gestos, nas palavras, nas atitudes de Jesus e, de forma especial, no seu amor vivido até ao extremo do dom da vida. A “verdade” é o amor infinito e sem medida que Deus derrama sobre a humanidade, a fim de fazê-la chegar à vida verdadeira e definitiva.
O reino de Jesus, o reino da Verdade, não é mesmo “deste mundo”, nem de tantos mundos nos quais também nós vivemos e ajudamos a construir, centrados na mentira, no poder, na violência, na autorreferencialidade.
Perguntemo-nos: Qual o sentido da festa de Cristo Rei na vida da Igreja? De qual “mundo” Jesus é Rei e Senhor? Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ