28º Domingo do Tempo Comum – 10/10/2021

07/10/2021

Nem tudo que reluz é ouro – Mc 10,17-30 – Neste 28º Domingo do Tempo Comum temos como cenário que Jesus deixou “a casa” (cf. Mc 10,10) e segue seu itinerário pela Judeia e pela Transjordânia, em direção a Jericó (cf. Mc 10,46), quando então completará seu caminho, subindo para Jerusalém. O texto deste domingo está inserido na dinâmica do caminho e pode ser claramente visto em duas partes: a) Mc 10,17-27, que trata da questão da riqueza e b) Mc 10,28-30, a questão da recompensa dos discípulos.

            A primeira parte do relato (vv.17-27) inicia informando que um homem “se aproximou correndo, ajoelhou diante d’Ele e Lhe perguntou: Bom Mestre, que hei-de fazer para alcançar a vida eterna” (v. 17)? Trata-se de uma questão essencial do viver humano: “a vida eterna”. O diferente neste personagem é que não é alguém que vem questionar Jesus para O experimentar, como seus adversários vinham fazendo nos relatos anteriores de Marcos. As posturas do homem, a sua atitude de respeito e reverência, mostram ser alguém sincero e bem-intencionado, preocupado com a prática necessária para se obter a “vida eterna”. Mostra ser alguém realmente fiel aos Mandamentos, zeloso no cumprimento de seus deveres. Jesus reconhece sua sinceridade e seu brilho, e convida-o a “reluzir como ouro”, ou seja, renunciar às suas riquezas, superar o caminho dos mandamentos e escolher o “caminho do Reino”, caminho de partilha, de solidariedade, de doação, de amor (cf v.21). Apesar de toda a sua boa vontade, o homem não consegue assumir a exigência deste caminho e se afasta triste. Não é apenas uma dificuldade pessoal, mas uma verdadeira impossibilidade: “é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus” (v. 25). Ele é incapaz de assumir uma vida de doação, de partilha, de amor, de entrega gratuita. Ė incapaz de assumir a verdadeira “vida eterna”, ou seja, viver “a vida do Eterno”. Quer a “vida eterna” como um mérito, como recompensa pela sua fidelidade à Lei, mas não como um modo de ser e viver na total doação gratuita. No Reino de Deus não cabe apenas o cumprimento da Lei, por vezes perpassado pelo egoísmo, pela autorreferencialidade, pela lógica do “ter”, pela insaciável posse de bens.

            Não só o homem se retirou triste, mas os discípulos ficam alarmados: ‘Eles ficaram muito espantados e diziam uns aos outros: “Quem pode então salvar-se”? Fitando neles os olhos, Jesus respondeu: “Aos homens é impossível, mas não a Deus” (vv.26-27). No reino da graça, na dinâmica da gratuidade, o que reluz é ouro.

Na segunda parte do nosso texto (vv. 28-30) os discípulos, pela voz de Pedro, recordam a Jesus que deixaram tudo para o seguir. Diferente d o Evangelho de Mateus, em Marcos Pedro não pergunta pela recompensa (cf Mt 19,27). A resposta de Jesus mostra que quando os discípulos renunciam a determinados valores, bons em si, é em vista de um bem maior: o seguimento de Jesus e o anúncio do Evangelho. Esta opção dos discípulos, incompreendida e recusada pelo mundo, trará perseguição e sofrimento, mas a opção pelo Reino e pelos seus valores lhes garantirá uma vida plena e feliz nesta terra e, no mundo futuro, a vida eterna. Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ