26º Domingo do Tempo Comum
Purificar a opção – Mc 9,38-43.45.47-48 – O Evangelho deste domingo, (uma série de “ditos” de Jesus, certamente pronunciados em contextos diferentes), é a continuação imediata do domingo anterior e nos mostra discípulos ainda muito limitados na aprendizagem do “caminho do Reino”. O cenário da narrativa continua sendo Cafarnaum (cf. Mc 9,33), cidade de pescadores, situada junto do Lago de Tiberíades. Jesus está “em casa” rodeado pelos discípulos. A ida para Jerusalém está próxima e os discípulos estão conscientes de que se aproxima o tempo decisivo da manifestação final de Jesus. Esperam um fim glorioso para o Messias a quem seguem.
Apesar da sua firme opção por seguir Jesus, os discípulos ainda raciocinam em termos de lógica do mundo e têm dificuldade em libertar-se dos seus interesses egoístas, dos seus esquemas pessoais, dos seus preconceitos, dos seus sonhos de grandeza e poder… Eles não conseguem entender que, para seguir Jesus, é preciso superar certos sentimentos e atitudes que são incompatíveis com o Reino e assumir a cruz como caminho único para a vitória final.
O seguimento de Jesus é uma opção sim, mas em vista da realização de seus sonhos de poder, de grandeza e de prestígio. Sentem-se inquietos e ciumentos quando encontram algo ou alguém que coloca em questão os seus interesses, a sua autoridade, os seus “privilégios”. Ficam indignados ao saber que outros também agem em nome de Jesus e expulsam demônios (v 38), missão e poder que Jesus lhes confiara (cf. Mc 3,15; 6,7). Agora querem ser os únicos com autoridade de expulsar os “espíritos maus”. Buscam monopolizar Jesus dentro de seu grupo fechado.
A reação de Jesus é dura. Ninguém deve ser impedido de fazer o bem (vv 39-40). Quem luta pela justiça e faz obras em favor das pessoas, está na dinâmica do Reino.
‘Dar um copo de água’ (v.41), uma ação simples, mas é gesto de acolhida, passo para a criação de vínculos, expressa comunhão com Jesus. A atitude mais radical que Jesus exige dos seus é a de não “escandalizar os pequenos” (v 42), ou seja, levar as pessoas vulneráveis à queda. A mutilação do corpo era algo que os judeus não podiam imaginar, ainda mais a morte por afogamento, uma vez que o afogamento representava o risco de não encontrar o corpo para o sepultamento. ‘Cortar as mãos, os pés e arrancar os olhos’ (vv 43-47), na cultura semita, era impedir o ‘agir’ (mãos), a ‘conduta’ (pés), e os ‘sentimentos’ humanos (olhos). Mas se a ação, a conduta e os sentimentos humano levam os “pequeninos” a tropeçarem, é melhor ficar sem os membros do corpo.
Todos estes “ditos”, naturalmente não devem ser lidos em sentido literal. São expressões que pretendem marcar a necessidade de purificar as decisões, superar a autor referencialidade, optar com radicalidade pelos valores do Reino. Jesus exige dos discípulos o corte radical com os valores, os sentimentos, as atitudes próprias do humano mundano, incompatíveis com o Reino.
Certamente uma exigência muito atual, pois nosso seguimento de Jesus e seu Reino sofre da mesma incoerência de ações, atitudes e sentimentos que marcaram a vida dos primeiros discípulos. Purificar nossa opção por Jesus das motivações interesseiras é tarefa quotidiana, que exige profunda conversão. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ