25º Domingo do Tempo Comum

16/09/2021

As discussões pelo caminho – Mc 9,30-37 – Estamos mais uma vez no coração do Evangelho de Marcos onde se busca confirmar que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. Ele veio ao mundo para cumprir a vontade do Pai e entregar sua vida em dom de amor à humanidade. Não se trata, porém de qualquer doação, mas de uma entrega violenta por morte de cruz. Neste 25º domingo do TC temos o segundo anúncio da Paixão. O grupo já deixou Cesareia de Filipe, cenário do primeiro anúncio,  e segue para Cafarnaum. A ida para Jerusalém está no horizonte próximo e a expectativa é que Jesus manifeste então seu messianismo, um messianismo político, capaz de libertar Israel do domínio romano, pela força das armas. Ao longo dessa “caminhada para Jerusalém”, Jesus, porém, ensina seus  discípulos sobre os valores do Reino e mostra-lhes, com gestos concretos, que o projeto do Pai não passa por esquemas de poder e de domínio.

            Do ponto de vista literário, o texto divide-se em duas partes. Na primeira, Jesus anuncia a sua próxima paixão, em Jerusalém (vv. 30-32); na segunda, mostra aos discípulos qual a dinâmica do Reino de Deus (vv. 33-37).

            ‘Caminhando’, Jesus  anuncia, pela segunda vez, sua paixão, morte e ressurreição, e o faz com muita clareza, serenidade e certeza. Os discípulos mantêm-se num estranho silêncio diante deste novo anúncio. O evangelista afirma que “os discípulos não compreendiam aquelas palavras e tinham medo de O interrogar” (v. 32). As palavras de Jesus são claras; o que não não cabe no raciocínio de seus seguidores é a perspectiva  da morte de cruz. Na mentalidade dos discípulos, a cruz e a morte violenta não podem ser caminho para o triunfo do Messias. O seu “não entendimento” é mais “discordância” do que falta de compreensão. Mas, apesar de discordarem, eles não se atrevem a questionar Jesus. Pedro já havia levado uma dura repreensão

Os discípulos ficam calados durante os anúncios da morte de Jesus, mas não estavam “em silêncio”. Chegando em Cafarnaum, “em casa”, num espaço de maior proximidade, vem a pergunta de Jesus: ´“Que discutíeis pelo caminho?” (v.33). Jesus sabe claramente qual o tema da discussão. Pelo caminho, tinham discutido, “sobre qual deles era o maior” (v. 34). Sempre o problema da competição, da busca de postos e de domínio sobre as pessoas. Jesus ataca o problema de frente e com toda a clareza, pois está em jogo a essência da proposta do Reino. Competição, auto referencialidade, buscar os primeiros lugares, imposição das ideias pessoais, são gestos e ações que violam o Evangelho.

Segue um gesto de Jesus, de uma força simbólica revolucionária para o contexto da época. “Toma uma criança, coloca-a no meio, abraça-a e convida os discípulos a acolherem as “crianças“, (vv. 36-37). Na sociedade judaica de então, as crianças eram seres sem nenhum direito, tratadas  como os deficientes, os pobres, os marginalizados. (Hoje este gesto de ternura, na maioria das sociedades, faz parte de viver quotidiano. Muitas vezes, porém, o trato com crianças é, ou de abandono ou de endeusamento).

Para quem vinha discutido sobre quem seria o maior, não poderia haver lição mais clara. O “maior” no Reino é aquele que serve os pequenos, os pobres, os marginalizados, cuida daqueles que o mundo rejeita e abandona. O maior é aquele que acolhe, que ama, que doa sua vida pelos outros, especialmente os “menores”.

Que nossas “discussões pelo caminho” tenham como foco o cuidado e a acolhida dos “menores”,  e que evitemos a construção de uma identidade de mando e de idolatria do próprio EU. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ