Saboreando a Palavra
Dia 05 de agosto de 2018
“Para além do sinal” – Jo 6,24-35 – O 18º Domingo do Tempo Comum continua com a interrupção do Evangelho de Marcos, do Ano B, e prossegue com a narrativa do sexto Capítulo do Evangelho de João. No domingo passado tivemos o relato da partilha do pão, o “quarto sinal” do Evangelho, do conjunto dos “sete”. É o sinal central. Ao verem esta ação de Jesus, as multidões não conseguiram perceber o sentido do sinal, pois viram Jesus como rei que vai resolver os problemas materiais. Não foram além do que viram e se saciaram. Viram no pão apenas a satisfação de sua fome. Não alcançaram ver em Jesus o profeta, aquele que o Pai estava legitimando como seu enviado. Assim sendo, depois da multiplicação do pão, vendo que o povo nada compreendera (vv14-15), Jesus se retirou para a montanha sozinho, enquanto os discípulos atravessavam o lago. É preciso entrar na intimidade do Pai para manter-se fiel quando as incompreensões da missão se evidenciam. O povo voltou a Cafarnaum, situado não tão distante do lugar da partilha do pão, e ali encontrou Jesus andando sobre as ondas (vv16-24). Inicia-se o diálogo no qual os Judeus interrogam a Jesus, focados na Lei, nas tradições, numa outra lógica. Abrir-se ao novo, ao diferente, é sempre um desafio. Abandonar a “zona de conforto”, os conhecimentos e certezas até então construídos, é um processo de mudança nem sempre viável para muita gente. Em Cafarnaum, os interlocutores perguntam como ele chegou ali “sem que eles o vissem partir”. Jesus convida-os a superar sua visão, a lerem os sinais, a abrir-se ao que o Pai lhes quer revelar, a crerem no enviado de Deus. A multidão, porém, buscava a Jesus pelo pão material que lhes proporcionou e não para uma adesão ao projeto do Pai, cujo gesto da partilha do pão, “próxima da festa da Páscoa” quis lhes ensinar. Mais uma vez a incompreensão volta à tona: perguntam pelas obras a serem realizadas e assim garantirem a salvação que Deus é “obrigado” a lhes conceder. Pedem um sinal, recorrem à memória do maná no deserto, recordam Moisés que, segundo eles, “dera o maná do céu”. Jesus, relativizando o sistema mosaico, do qual são convictos defensores, responde que não foi Moisés que deu o pão do céu. O pão do céu é este que Deus dá agora, o próprio Filho Jesus. Pela palavra e na entrega total de sua vida, Jesus comunica a vida verdadeira que não perece jamais. Como veremos adiante, a incompreensão persiste, até mesmo quando pedem: “Senhor, dá-nos sempre deste pão” (v.34). Permanecem no pão que os deixa satisfeitos. Isto é muito compreensível entre as pessoas realmente famintas. A prioridade absoluta é colocar algo em seu estômago tão vazio e teimosamente “rebelde”. A mente não funciona quando há estômagos cronicamente vazios. A prioridade da Igreja é cuidar dos pobres. As elites judaicas de então e as de hoje, igualmente, não são capazes de ouvir o gemido de dor que brota do estômago das multidões famintas. Certamente foram os que não passavam fome que quiseram fazer de Jesus um rei, pois assim solucionaria o problema da fome dos pobres, uma vez que quem partilhou foi somente o menino que “tinha cinco pães de cevada e dois peixinhos”. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ