16º Domingo do Tempo Comum
A compaixão: o coração da missão – Mc 6,30-34 – A liturgia deste 16º domingo do Tempo Comum nos leva ao coração do Evangelho e nos apresenta o traço mais luminoso do rosto de nosso Deus: a “compaixão” de Jesus para com “as ovelhas sem pastor”. O Evangelho do domingo anterior mostrou-nos Jesus enviando os discípulos, dois a dois, para a pregação, a expulsão de demônios, a unção e a cura dos doentes (cf. Mc 6,7-13). Neste domingo vemos o regresso dos discípulos que contam a Jesus, com muito entusiasmo, o que fizeram e ensinaram (v.30). Jesus os terá ouvido atentamente e percebido a necessidade de uma parada, uma revisão, um descanso (v 31). Talvez nem tudo estivesse bem focado. Uma revisão poderá estar sendo necessária. O lugar devia ser isolado e a travessia é feita de barco. Talvez nesta travessia tenham pescado um pouco (sobrou um pouco de pão e peixe, como aparece no relato seguinte), a partilha terá continuado, quem sabe tenham contado fatos pitorescos, rindo-se uns dos outros, como acontece com grupos de amigos que se encontram e fazem um dia de descanso em mares calmos. Mas para quem tem uma missão a cumprir, isto não dura muito tempo. As multidões adivinharam para onde Jesus e os discípulos se dirigiam, e “chegaram primeiro” (v. 33). Ao desembarcar, Jesus viu as pessoas, teve compaixão delas, e pôs-se a ensiná-las (v. 34).
O episódio é simples, familiar, mas traz ensinamentos preciosos. Os discípulos foram enviados para anunciarem o Reino de Deus. Partilhar com Jesus o que fizeram e ensinaram ajuda, certamente, para não se apropriarem da missão, de atribuírem a si o bem realizado e a necessidade de se reconhecerem “enviados”. A missão é de Deus. O descanso a que Jesus os convida pode ser por conta do cansaço físico, próprio de atividade missionária, mas também indica que a missão não depende somente da atividade humana. Não é mérito pessoal. A semente cresce enquanto o semeador dorme. Outros possíveis ensinamentos: os discípulos são convidados a irem “com Jesus” para um lugar isolado. O necessário “descanso” deve ser feito com Jesus, escutando-O, dialogando com Ele, confrontando, participando da sua intimidade Isto recupera as forças de um missionário e garante o sentido da missão: projetos pessoais, esquemas mentais subjetivos, opções isoladas certamente devem ser revistos à luz da Palavra de Jesus. A missão dos discípulos não pode ser desligada de Jesus.
Chegamos ao “outro lado” e lá esta a multidão à espera de Jesus e de seus discípulos. Fizeram uma longa caminhada para chegar ao lugar para onde a embarcação se dirigia. Uma busca incansável, necessitada, movida pela urgência. Vendo isto Jesus “compadeceu-se de toda aquela gente” e comparou aquele cenário com um rebanho de “ovelhas sem pastor”. Quem conhece um rebanho de ovelhas sem pastor, sabe bem como elas reagem. Parece que realmente “choram”.
Uma multidão sofrida correu para encontrar seu verdadeiro “pastor”. Jesus se compadece e começa a ensinar muitas coisas. Marcos não diz o que Jesus ensinou, mas a narração seguinte mostra qual foi o ensinamento. A cena da multiplicação dos pães e dos peixes, que saciou a fome de “‘cinco mil homens”, revela bem que a compaixão é o coração do Evangelho, é a razão de ser de toda e qualquer missão. A compaixão se traduz em ações concretas, em participação dos discípulos, em sofrer com os que sofrem, em olhar para as “ovelhas sem pastor” com olhos divinos. A compaixão é o coração da missão e é de grande urgência num mundo onde a sensibilidade humana vai quase desaparecendo. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ