5º Domingo da Quaresma – 21/03
“Queremos ver Jesus” – Jo 12, 20-33 – O cenário do Evangelho do 5º Domingo da Quaresma é Jerusalém. É possível que seja no próprio dia da entrada solene de Jesus na cidade santa (cf. Jo 12,12-19). O certo é que era dia de festa. As multidões “que tinham chegado para a Festa” haviam aclamado Jesus como o rei/messias. De acordo com João, as pessoas “colheram ramos de palma” e saíram ao encontro de Jesus. O uso de ramos de palmas, no folclore religioso judaico, era ligado à Festa das Tendas, festa que celebrava o tempo em que os israelitas viveram em tendas após a libertação do Egito. Em cena entram “alguns gregos” que “tinham subido a Jerusalém para adorar” e que queriam “ver Jesus”. Estes gregos, talvez prosélitos, isto é, não judeus, subiram a Jerusalém para adorar a Deus no “Templo”. O Templo era, desde o tempo do Rei Josias (640-609aC), o único lugar para adorar a Deus. Mas no meio desta trajetória, há uma ruptura de perspectiva: os gregos querem “ver Jesus” (v.21). O que significa “ver Jesus”? “Ver” seria apenas um ato de curiosidade para conhecer a pessoa famosa e aclamada? Certamente não é o propósito do Evangelho de João. Há indicativos que eles querem encontrar-se com Jesus, conhecer sua pessoa e seu projeto, ter contato com a Boa Nova que Ele veio oferecer. O Templo, os Sacrifícios, o Culto já não são mais os lugares onde se encontra Deus e se alcança a salvação. Jesus, logo no inicio de sua ação, em João, provoca grandes transtornos no templo (cf Jo 2,13ss). Quem quer encontrar a salvação vai diretamente a Jesus, o novo e verdadeiro Templo, aquele de se “adora em espírito e verdade” (cf Jo 4,23). Esta salvação veio também para quem está fora das fronteiras de Israel (“gregos”). O Evangelho descreve que eles não vão diretos a Jesus, mas pedem a mediação de discípulos, que vão comunicar a Jesus. Estaria aqui uma indicação da dimensão missionária dos seguidores de Jesus? Como discípulos, temos a missão de ajudar outros povos a “verem Jesus”. Como se trata de um “ver comprometido”, é preciso considerar que, no horizonte próximo, está a cruz. O prosseguimento do diálogo é um tanto surpreendente. Jesus nada diz a respeito do grupo que quer vê-lo. Como que muda de assunto e diz: “chegou a hora de se revelar a glória do Filho do Homem”. Parece que, com a adesão de outros povos, Jesus viu sua missão cumprida e a “hora chegou”. Até então Jesus sempre dizia: “a minha hora ainda não chegou”. Agora chegou a “hora”. Ele está consciente de que vai sofrer uma morte violenta e maldita, e que todos o vão abandonar como um fracassado. Está consciente, também, que nessa cruz se manifestará a “glória” do Filho do Homem. A morte de Jesus não é um momento isolado, mas o culminar de um processo de doação total de Si mesmo, que se iniciou quando “o Verbo Se fez carne e colocou a sua tenda no meio de nós” (Jo 1,14). Durante toda a sua existência terrena, Jesus procurou, em cada palavra e em cada sinal, trazer vida e dignidade ao ser humano. A sua morte é a consequência do seu confronto com as forças da morte que dominavam o mundo. Por outro lado, ao dar a vida por amor, Jesus deixa aos seus discípulos a última e a suprema lição que eles devem aprender. Para quem quer “ver Jesus”, precisa “fixar seu olhar em Jesus crucificado”, que deu sua vida por amor e seguir seus passos. Ir adorar a Deus no templo continua sendo religiosidade de muitos que se dizem cristãos. Mas “ver Jesus” é, em tempos atuais de pandemia do COVID, é combater também o vírus do egoísmo, da vaidade, do ódio, que constituem focos infecciosos, com muitas variantes. Nós “queremos ver Jesus” ainda nesta vida presente! Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ