Saboreando a Palavra
“Um pastor que dá a vida” – Jo 10,11-18 – A narrativa do “bom pastor” é a conclusão dos discursos de Jesus na festa das Tendas ou dos Tabernáculos, iniciado em Jo 7,2. O relato está em continuidade ao episódio da cura do cego de nascença (9,1-38) no qual se dá uma grande discussão entre Jesus e o grupo dos fariseus. Eles se encontram no átrio do templo, bem dentro do sistema político-econômico e religioso. Jesus assume sua missão de romper com as tradições judaicas (10,1-6). Declara-se como porta, única passagem para um novo modo de vida, única alternativa de vida em plenitude (10,7-10). No texto deste domingo Jesus se apresenta como pastor, mas não qualquer pastor, mas o “Bom Pastor”, diferente de todos os demais, porque ele não busca seus próprios interesses. Ele vai dar tudo, inclusive a própria vida. É um pastor que “dá a vida por suas ovelhas”. João coloca raízes do AT no seu texto. As imagens e símbolos usados eram muito conhecidos pelo povo Judeu. As lideranças sabiam bem qual era o papel do pastor e afirmavam que o Rei era o pastor do povo. No profeta Ezequiel, capítulo 34, temos uma descrição forte do modo de ser do pastor e uma séria denúncia dos maus pastores de Israel. O relato de João acentua o contraste entre a maneira de agir de Jesus e a das autoridades judaicas. O pastor entra pela porta para cuidar das ovelhas, não para explorá-las. Por isto elas escutam sua voz. O pastor tem duas funções principais: apascentar e conduzir. Jesus supera as ações comuns dos pastores: defende as ovelhas dos ataques dos lobos, reconhece suas ovelhas onde quer que estejam, leva-as a pastar, mas, acima de tudo, dá a vida por elas. Jesus é o “bom pastor”. “Bom” significa belo, valente, acertado, exemplar, excelente. Ele tem intimidade com suas ovelhas, chama-as pelo nome e suas ovelhas são como filhas. As ovelhas, por sua vez, reconhecem o pastor e ouvem a sua voz. E o pastor indica o caminho e as ovelhas o seguem. “Seguir” é a atitude do discípulo. Ele mesmo é o caminho. Jesus não conduz suas ovelhas para recintos estranhos. O texto não trata apenas do pastor, mas também se refere às ovelhas, no caso o povo que está abandonado “sem pastor” (cf. Mc 6,34), um povo explorado e violentado pelos pastores de Israel. As ovelhas não podem sair sozinhas, precisam da condução do pastor, oferecendo-lhes a vida. Os que ouvem sua voz são os que são dele. A voz do pastor convida para a liberdade, a vida plena. Os dirigentes não entendem a semelhança entre Jesus e o bom pastor, entre eles e os ladrões. Eles não conhecem a voz de Jesus, pois não são das suas ovelhas. Não entendem a linguagem de Jesus porque não são capazes de escutar sua mensagem de vida. Instalados na sua “zona de conforto”, nas suas certezas e com a convicção de que eles são os chefes legítimos do povo, não perceberam a denúncia de Jesus ao se auto proclamar como “Bom Pastor”. O modo de ser de Jesus provoca divisões; para uns, suas palavras não tem cabimento; para outros, são sinal de libertação e vida nova. As autoridades judaicas exigem de Jesus uma definição clara de sua missão. Uns dizem que perdeu o juízo, está delirando, tem um demônio. Outros lembram que ele abriu os olhos a um cego, sinal da chegada do Messias. Concluindo podemos perceber que este Evangelho do Bom Pastor, longe de nos colocar diante de uma cena piedosa de Jesus nos carregando em seus braços, é um texto profético que nos questiona em todas as dimensões de nossa vida. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ