QUINTO DOMINGO DA PÁSCOA – 10/05/20
Não se perturbe o vosso coração” – Jo 14,1-12 – Este diálogo do Evangelho, de Jesus com os discípulos, é de uma preciosidade incalculável e de uma atualidade única. O ideal mesmo é ir lendo lentamente cada frase, ir saboreando cada palavra e atualizando para os nossos dias. “Não se perturbe o vosso coração”, disse Jesus aos seus discípulos e diz também a nós hoje, nestes tempos tão difíceis desta terrível pandemia. Talvez estejamos tão perturbados/as que nem conseguimos bem ouvir as palavras de Jesus. Seguem aqui alguns apontamentos, como um pequeno “aperitivo” apenas, para uma maior sensibilidade com o texto do Evangelho deste 5º domingo da Páscoa. Estamos na fase final da caminhada histórica de Jesus, na ótica do quarto Evangelho. Até este momento, segundo João, Jesus vinha cumprindo sua missão em confronto aberto com os dirigentes judeus. O último e o mais decisivo dos seus “sinais”, a ressurreição de Lázaro, levou o Sinédrio a decidir matar Jesus (cf. Jo 11,45-54). A defesa da vida é sempre uma ameaça aos donos do poder prepotente. Isto ontem e hoje. A “hora” se aproxima. Jesus está consciente de que a morte está no seu horizonte próximo. O cenário do diálogo de Jesus com os discípulos é o de uma ceia, uma ceia de despedida, uma ceia que se prolonga bastante. Em João, literariamente falando, trata-se de uma ceia iniciada no capítulo 13, que segue até o capítulo 17. Nela estão Jesus e os discípulos. São diversos os gestos e palavras de Jesus durante e depois da ceia: lava os pés dos seus, dá o mandamento do serviço e do amor, despede-se dos discípulos, faz-lhes diversas recomendações e reza (Cf Jo 13 a 17). As palavras de Jesus soam como um “testamento final”. Como em certas famílias, reunidas em torno da mesa, ou seja, em comunidade que se despede, se revela o essencial de uma vida e de uma missão, se diz o que se considera de suma importância. Jesus usa o diálogo como meio de revelar progressivamente a sua divindade e os mistérios do Reino. Sabe que vai partir para o Pai e que os discípulos vão continuar no mundo. Os discípulos, frente ao ambiente de despedida, estão inquietos, preocupados, um tanto desorientados. Não sabem o que vai acontecer, nem que caminho percorrer. Um clima semelhante ao que vivemos hoje: o que será depois desta pandemia? Como vamos reconstruir nossas vidas, nossas celebrações, nossas atividades, nossa sobrevivência? Os discípulos dialogam com Jesus, mas um diálogo um tanto truncado. Filipe revela uma quase total falta de compreensão do caminho indicado por Jesus. Jesus também não é apenas alguém que “aprendeu o caminho”. Ele mesmo é O CAMINHO, o caminho para o Pai. “Ninguém vai ao Pai senão por mim”. Como é que Jesus se fez CAMINHO? Ele “montou a sua tenda no meio dos homens” (Jo 1,14) e ofereceu à humanidade um “caminho” de vida em plenitude: testemunhou, na sua própria pessoa, o caminho para o Pai. Revelou que, seguindo seus passos de serviço e de doação da própria vida, encontra-se “o caminho da vida em plenitude”. Para que os discípulos alcancem a compreensão necessária, Ele insiste que tem que passar pela morte, “ir para o Pai”, “preparar um lugar”. Jesus afirma que “tem que ir’ ao encontro do Pai, para que, pela lição do amor e pelo dom do Espírito, todos possam fazer parte da família de Deus. “Na casa de meu Pai há muitas moradas”. Basta que sigam “o Caminho”, que escutem as suas propostas e que aceitem viver no amor e no dom da vida. Diante desta revelação, “não se perturbe o vosso coração”. Oxalá consigamos bem compreender e viver esta “ordem” de Jesus, nestes tempos de tanta tribulação!. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ